terça-feira, 11 de março de 2014

AS GENTILEZAS TORNAM A VIDA MAIS AGRADÁVEL

Aaaaaa ... as gentilezas ... ai, ai ...
Um poeta e profeta andou pelo Rio falando pelas ruas dessa cidade que gentileza gera gentileza. Por vezes aborta, mas na maioria das vezes gera sim.
A gentileza só não pode ser bem vinda quando a desconfiança se torna necessária.
Melhor ainda se o que for gentil o for só por ser, sem querer nada além de doar-se, sem querer impressionar, nem mesmo seduzir ou controlar.
Gentil, há pessoas que nascem recebendo esse nome e outras que poderiam ser rebatizadas. 
Houve um tempo em que o nome estava intimamente conectado à identidade. Os gregos clássicos identificavam o nome à cidade de origem, foi o caso de Zenão de Sítio e o de Eléia, as cidades diziam que não eram o mesmo. Em outro dizer, se sabia quem era, ao se saber onde nasceu. Ainda que se repetissem, os lugares não eram os mesmos. Mas, parece que nesse tempo não se deslocavam muito, só os aventureiros, destemidos, como Ulisses, pois era difícil, lugares inóspitos, nem tinham hotéis, tampouco pousadas ou restaurantes. Tenho a impressão que deveriam ter anseio por fixar-se também. 
Desejo muitas vezes um ponto fixo, para que a alavanca que me move encontre seu apoio. O tenho sim, dentro de mim e não fora, num lugar que nem lugar é, pois não tem limites. Como sentir segurança sem os limites? Como ouvi outro dia alguém dizer que uma criança lhe perguntou: "Será que espaço tem chão?"
Talvez o nome deveria ser dado na morte e não ao nascer, pois só assim se pode saber quem de fato se pôde ser. Mas, como chamar, de modo que esse saiba, ao que está vivo por aqui? Também receber o nome antes de ter vivido o tempo de estar vivo soa como uma profecia.
Os que me deram um nome me deram boa herança, pois está cheio de bom agouro, uma bela profecia.
Quanto ao nome, não posso agradecer aos que o elogiam, pois não tenho mérito algum, mas ser gentil escolho por todo tempo que me dou conta desta liberdade.
Receber gentilezas é bom, mas aquela que já citei, a mais fortuita e espontânea é precioso presente, e sem dúvida, torna a vida mais agradável.

domingo, 2 de março de 2014

O BOM OLHADO

Quando a vida está presente, o natural dos olhos só pode ser o brilho, assim como as superfícies bem polidas.
Os olhos curiosos parecem com os bebês que levam tudo à boca, parecem querer trazer pra dentro de si os muitos estímulos. 
Tanto beleza como feiuras podem entrar no olhar, e também torná-lo cativo. 
Se a superfície fica opaca, sem translucidez, basta limpar os vidros. E como saber quando estão sujos? Só se o dono do olhar reparar os vidros e não deixar as cortinas fechadas.
Olhos baços, com arranhaduras e sem translucidez, com fissuras e trincados se turvam, as imagens se distorcem e as vistas já não veem mais, não o que se está à frente, mas só borrões.
Os que só olham num mesmo ponto comprometem a musculatura e as dobradiças, desembocam na perda da mobilidade do que se pode focar. Deve ter o pescoço duro aquele que foca sempre num mesmo ponto, como os homens da alegoria de Platão. Pobres, esses nem poderiam movê-lo, pois estavam presos por correntes, nem deviam saber viver sem elas.
Aprisionar os olhos com correntes é demasiado cruel; são muito delicados para algo tão duro, qualquer ponta que o possa tocar e ele se desvanece, sem que possa se juntar mais. 
Sansão, depois de ter os cabelos cortados, lhe furaram os olhos. Perdeu bem mais que a força. Creio que a força que tinha protegia seu olhar.
Somos seres de liberdade, de movimento, que quando o pescoço não gira, o corpo se torce para posicionar os olhos. O corpo todo gira; e se preciso for, para buscar o que se quer ver, gira ao redor do mundo também. 
"Da-me um ponto de apoio e moverei o mundo"! ... Pois digo: Mova o olhar e o mundo todo se altera; com um bom olhar novos mundos se abrem.
Olhar arejado abre janelas novas para a alma de muitos. Traz luz pra dentro de si e ilumina também a do outro e não deixa mofar.
Almas são casas que por vezes não se sabe quem habita. Aí tem de tirar o pó, desembaçar os vidros e olhar nos olhos pra ver quem está ali. 
Gosto dos azuis, por parecerem mar. O mar é uma imensidão que convida a que avancemos.
Há tantas outras gamas de cores dos olhos, bem maiores do que nossa paleta de cores de olhos nos pode mostrar. 
Olhos rosa, por exemplo, são perfumados, exalam um aroma agradável, que acalenta. 
Olhos amarelos lembram o nascer do sol. 
Olhos vermelhos são intensos. 
"A quem esses olhos vermelhos?" Por que pintá-los assim?
Lágrimas irrigam e podem devolver o brilho, chamam o sangue pra circular ali. Quando muito intensas ficam como minas d'agua, e podem minar até que se sequem. Há fontes que parecem nunca findar, mas as coisas debaixo do sol secam quando ele brilha sem parar. Aaaa se não fossem as nuvens ...
Me interessa saber qual a origem da água que vem molhar os olhos, gosto de buscar saber qual a fonte primeira dessa corrente.
Bem aventurados os que não têm suas fontes obstruídas, pois "os que choram serão consolados."
Molhar os olhos com águas limpas tira a sujeira dos vidros das janelas e faz ver melhor o que esteja fora, para além do que há debaixo do Sol, quando se pode olhar pra ele, sem que se tenha de fechar os olhos se pode ver seu centro, seu interior.
Que os bons olhos me mirem e venham conversar comigo, vou ouvir e claro que gostarei de aprender sua língua.
O bom olhado ilumina, e, como lanterna, faz enxergar o caminho, a verdade e a vida.