sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

DIA PARA RECONHECER

Não sabia quem eu era, nem sabia falar; não sabia aonde estava, tampouco sabia caminhar.
Não sabia dizer o que queria, pois não sabia querer. Meu desejo era contra mim e não tinha como me proteger.
Não sabia o que era o amor, mas achava que sabia amar. Equívocos não me faltaram, menos ainda o que me equivocar.
Errei de onde vinha, errei reconhecer. Errei com quem queria, não queria mais querer. Errar mesmo, nunca quis; só que achava que o erro era acerto.
Me arrependo ... É um lamento ...
Só pude ver ao ver o mau, que este nunca foi bom. Não o conheci, só vi; mas o conhecer é o que não quero. Questão faço de frisar: nada tenho a ver consigo, isso falo de garganta aberta  e de pulmão cheio de ar.
Bem me quero, agora quero, aprendi a escolher, quem me ama de verdade ao ponto de na cruz morrer.
Ele sim é meu amado, a quem tanto quis saber, desde bem pequena me encantava com histórias que ouvia de sua passagem por aqui. Peregrina fui e peregrina sou. 
Ele sim, e sem pecado, por mim escolheu se entregar, nas mãos de muitos malvados que não me importa mencionar.
O que me importa é que sou de meu amado e meu amado é meu, a Ele pertenço sem que me possam tirar de seus braços, pois forte e inabalável é o seu eu. Não muda e nem varia, seu rosto brilha mais que a luz, que qualquer luz. 
Sol que nasce de nascente, que se põe em seu poente, que me traga um novo dia para que esteja mais perto a hora de com Ele estar, pois com Ele e Nele está a minha alegria. Nele eu posso confiar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

"ODE AO DEUS DESCONHECIDO" (Nietzsche, F.)




"Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir."
(Tradução de Leonardo Boff).

domingo, 30 de outubro de 2016

MUNDO INSTÁVEL

Por muito tentei ser anjo. Anjo não dá pra ser. Não por falta de esforço ou de disposição, mas é que neste mundo em que estamos isso não é possível.
Mundo instável, cheio de oscilações, desequilíbrios, necessidades, escassez, empecilhos, fluidez, inconstância, contradições colapsantes.
Um mundo que tem teto, mas não tem chão.
Crescer pra cima só para os violentos em amor. 
Falando nisso, o amor é tão forte quanto a morte ou a resiste ainda mais? Se o que fica é fé, esperança e amor, então é mais forte.
Mesmo amando, anjo não dá pra ser.
Pode perguntar, não ligo: Por que alguém iria querer ser anjo? ... Ah! Os anjos não parecem oscilar em humor, em descontentamento, tédios e fadigas, por isso são anjos, sempre cheios de disposição e vigor a cumprir a vontade do que o criou, e eles sabem Quem os fez. Anjos não têm dúvidas; mas, fazem escolhas.
Se esse mundo é tão instável, instáveis também somos nós, hora querendo isso, hora não mais; depois querendo aquilo, depois não mais ...
O estado de equilíbrio é buscando, principalmente quando se está a aprender a voar. E Beija-Flor? ... Não, também não dá pra ser. Beija-Flor pára no voo, se atém ao que está em frente de si. Beija e voa, mas leva consigo seu doce. É ... talvez não seja estável também, então não serve de muito para o fim de ser constante. Ele nem poderia, pois é deste mundo também, e este mundo é de instabilidade, incertezas, desejo de existir sem que haja consistência e cheio de ilusões persistentes.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O DESEJO TEM DE ESTAR NA BOCA

O que sai da boca é o que está cheio o coração.
A racionalidade, como a conhecemos, acabou por se reduzir tanto que nela não cabe mais um sujeito que a pensa. 
Se se tira o desejo, a força da emoção, o sentir, o que fica de sujeito?
Neutralidade? Pode haver neutralidade ao desejar? 
E será que ataraxia existe mesmo, ou seria mais uma asfixia seguida de morte ao deixar de respirar o desejo.
O que você quer? ...
O que você realmente quer, o que você deseja?
Quem é que sabe o que deseja?
E se desejar coisas que se anulam, haverá de fazer uma escolha, pois não se pode agradar a dois senhores, ou a de agradar a um ou a outro. Qual você escolhe?
Mas, não tem senhor? ... Coitado de quem não tem ninguém ...
Até os cachorros têm dono, os reconhecem e ficam felizes por os ter, ainda que não cuidem de si. Por isso a fama de serem tão fiéis.
Esse é um bom critério, ter quem cuide de si. 
Não que se precise.
Sei que as crianças precisam, os filhotes geralmente precisam, mas quando não se é criança, se não por motivos limitantes, não precisa que seja cuidado.
Mas, cuidar e ser cuidado não tem somente a ver com necessidade; tem a ver com amor.
O amor mora no coração, emana de ali.
Sempre convém lembrar que das coisas que se deve guardar, guarde seu coração, pois dele provém as fontes de vida. 
Ter coração é ter quem o guarde, em um lugar seguro, que não se possa tomá-lo, nem arrebatá-lo por quem é mais forte.
Meu dono é o único que tem palavras de vida eterna, que livra até da morte. 
Guardar é cuidar. O que ama, guarda. O que cuida, ama.
O que você quer? ...

terça-feira, 23 de agosto de 2016

OS SONHOS SÃO PORTAS PARA A FELICIDADE

Há sonhos recorrentes que insistem em dizer o que não se consegue ouvir. E as letras nos sonhos aparecem embaralhadas. Elas vão dançando um bailado interessante.
Talvez por isso que se fala sonhando, para trazer à existência, com o poder da palavra, o que está latente no desejo do sonho.
O sonho parece ser criado em um mundo à parte. Num mundo em que não há divisão, que tudo se mistura.
Nesta mistura, o que há de ordem? 
Sonho muito com casas, até com plantas baixas, esquadrias, batentes, janelas e portas de todo tipo. Até com tanques de roupa sonhei. Os cômodos levam a outras portas, e essas outras portas a novos cenários.
Já li que assim como o corpo é morada da alma, a casa é do corpo, e ambos do espírito que ali habita.
Já ouvi também que a casa é a cara de seu dono. 
Não tenho casa para saber qual o humor do dia, mas tenho sonho. Casa é bem mais que cimento, casa não é um amontoado de coisas; casa é processo.
Quanto tempo leva para construir? Construir o quê? Uma vida? Um caráter? Uma casa? ...
Sei que o sonho de muitos é ter uma casa, e quem a tem um dia sonhou em tê-la, ou sonha em ter uma ainda melhor.
Para onde irei tem muitas moradas, e ao entrar abrirei as janelas, pois segurança tem toda ali. 
Há janelas na alma por onde pode entrar a luz, basta não fechar os olhos.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O DESEJO SUBLIME É O DE FELICIDADE

Sintoma permanente e constante de que se está no lugar certo e na hora certa, se expressa por meio da felicidade.
Estar em casa parece ser sempre o momento certo e é o lugar que se deve estar, que é o que te pertence, o teu espaço, o teu lugar.
Lembra quando ele disse que irá nos preparar morada e logo voltaria para nos buscar? ... Nossa felicidade está próxima e não há de tardar. Estar perenemente no lugar certo sendo sempre a hora certa.
Isso não parece ser para mortais. Mas, nunca viu escrito? Salmodiaram assim: "Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo".
Este Deus, o Altíssimo, é certamente feliz, e felizes também são seus filhos, pois herdaram a felicidade de seu pai.
Pater, mater, frater, família. O afeto que constitui a unidade.
Agnatio e cognatio sine manu.


sexta-feira, 24 de junho de 2016

SOBRE A LEVEZA

Tanto esforço, tanta força, muita força, força que não parece mover.

- Onde você está? ... Aonde você está? ... Donde você está? ...

- Quer estar onde? Aonde? Donnnddeeeeeeeee ... eee?

- Não consigo ouvir. 
    Não consigo ouvir.
      Não consigo ouvir.
      NÃO CONSIGOooooooooooo ... ver ...

- Se não vem até aqui, ei de ir até aí.
  Não está só; nunca esteve.

- O desejo! O desejo é forte. O que você deseja? 
  Se não sabe, procure saber, pois é ele quem move o que há de ter     força para mover, quer você venha, quer você vá.
  
  Tem que saber. Só não sabe que sabe, mas sabe sim.
  Não desista que está perto, bem perto. Se não tem força, peça           ajuda, que ela vem. Não precisa saber de onde, pois vem.

- Mas, vem de onde, aonde, donde, de quem?

- Sempre vem de alguém. Vai saber quem é, só não feche os olhos,     não durma, não queira ser quem você não é, pois é melhor do que  deseja pensar ser. 

- Não sei se sei. Como se sabe que sabe?

- Não se sabe, se sente. A mente sabe, o espírito sente.
  Deixe os mortos enterrarem os mortos, mas quanto aos que            dormem, despertem do sono da morte, que ela vai embora.

Não é para todos, só para você. Há outros como você, não está sozinho.

Pois, se esforce até que entre, quando entrar vai saber e descanse. Há o que lute por você, luta por amor.

Simplesmente creia, só creia, e descanse.


terça-feira, 14 de junho de 2016

CORAÇÃO: O TERRENO ONDE SE PLANTA A FELICIDADE

Os sentimentos vão sendo impressos ao longo de toda vida. 
Sei bem por onde entram, mas onde que eles ficam?
Sei também que para ter sentido, eles tem de vir temperados com porções bem medidas. Se não houver harmonia entre os sentimentos tudo fica muito confuso, como letras que não formam palavras. 
Onomatopeia nunca é o suficiente. Palavras fazem falta.

Já que falamos de palavras, primeiro convém separar sentimento de emoção, pois parecem quase gêmeos. Também! ... Andam sempre juntos! 
Ainda que pareçam gêmeos, como em alguns pares, as personalidades são diferentes.
Sentimento é o eco do que nos guia para fora. Muito vago? Por agora só sei falar vago assim. O que sentimos, sentimos, e vamos seguindo. 
- Engraçado, sentimentos parecem com impressões que são cunhadas em matriz para compor um todo coerente. 
- E se não for coerente, não é sentimento? ...
- Melhor suspender o juízo e falar sobre sentimento depois.
- Então falemos sobre emoção.

Emoção parece modular a intensidade do sentimento. Não é difícil de reconhecer, porque tem cor. Quer ver ...
Euforia? É uma emoção; sua modulação deve ser magenta. 
Raiva também é uma emoção,raiva é laranja. 
Tristeza? Também é emoção, e por parecer mais indiferente e discreta, deve gostar de tons mais neutros, tipo cinza. Também deve gostar de dias nublados e chuvosos, por terem menos cor. 
Paixão é cheia de euforia, só que entumecida de vermelho intenso.

Reparou que as emoções parecem ter personalidade própria, pois cada uma delas tenta se instalar, até que venha uma outra que a destitua. Imagine se aguentaríamos viver sob a tirania da euforia? Nada discreta, gosta de chamar atenção, e um tanto egoísta ... Pode-se morrer de euforia. 
O coração que não haveria de aguentar, ele é sempre um súdito a servir o corpo de modo tão constante e fiel; quando muda o passo avisa, quando muda o compasso também. Sob o domínio da euforia sairia do ritmo. Além do mais, coração que bate com muita intensidade, por muito tempo, fica gasto.

Então é bom saber: emoções fora de controle nunca foram de muita ajuda. 
- Que inconvenientes, começam e depois não sabem parar, como os alcoólatras.
De bebida não entendo, mas de comida ... Já degustou um prato com muito cominho?? ... E com muito coentro?! ... Se errar na mão, perde-se tudo, fica sem poder comer.

- Mas, de tristeza também se morre viu, e por vezes sem nem saber o que a causou. Ela entra, fica sem ser notada e pára ali. Por vezes se esconde atrás da euforia. Felizmente o tédio geralmente a acompanha, e como ele não é dos mais discretos, bufa, assim pode dar pistas de que a tristeza ronda por ali. Enquanto ela está na mente, menos mau, pois a mente é muito instável, logo muda tudo e a tristeza se desequilibra e cai. Mas, se cair no coração ...

Cuidado: as emoções quando sem controle tem uma tendência a gerar distorções nos sentimentos; e a parte que faltou entender do que se recolheu por meio dos sentidos, as emoções inventam, por vezes atrapalham tudo.
Quando fora de controle são trapaceiras, deixam o coração sem autoconfiança. Nessas horas que ele se torna enganoso, por ficar confuso.
As emoções quando bem dosadas dão sabor aos sentimentos, dão um sabor especial para o gozo de estar vivo.

E os comensais das emoções?
O coração quem serve os pratos, desde o plantio os cultiva. 
Se formos descrever desde o início, seu solo tem de ser arado, a terra remexida, nutrida, bem regada e cercada, para não entrar intruso, e pode ser com muro de cipreste, melhor que de arrame ou concreto.

- Para que cerca de cipreste, acaso coração deve ser cercado é, não devo deixá-lo livre?!

O Deus que guia pelo Caminho sabe o que é o coração, entende bem, mais que os cardiologistas, pois foi Ele quem o fez. Procure-o no coração, mora ali. Também fez a felicidade, como um sentimento que o coração sabe reconhecer.

- Sabe aquela sensação de estar no lugar certo e na hora certa? Então, isso é um sentimento que te faz saber que está no caminho certo.
- Mas, sensação e sentimento são a mesma coisa?
- Isso ainda não sei, tenho de continuar andando. Um dia vou saber.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

CONFIANÇA É PROMESSA DE FELICIDADE

Confiar parece ser tão difícil. 
Não sabia por muito tempo em quem confiar, e nos que confiei não poderiam suportar a confiança.
Profeta é aquele que vê.
Para depositar confiança plena tem-se que assumir: Tudo que é teu é meu, tudo que é meu é teu. 
Na vida de dois é feito um. 
Esse um é um novo ser, nova criação. 
A criação do um é crescida e a maturidade e capacidade são desenvolvidas junto com a confiança ao longo do tempo, a partir do compromisso.
O um não vem sem aliança. Aliança não é feita sem fé.
"Fé é o firme fundamento das coisas que não se veem, mas prova do que se espera".
Espero pelo que me desejou até a morte, ao que me prometeu voltar. 
Amado da minha alma, pra quem nasci, não há outro, nem poderia haver. Agora sei de que Espírito sou.
Me lembro do teu falar: "Aprendei comigo que sou manso e humilde de coração". 
Não quero pertencer a outro, nem poderia, não caibo em nenhum lugar se não em ti, bendito e glorioso.
A tua semente é de vida, o teu toque é de vigor, a tua aprovação é a felicidade.
Teus são os meus sorrisos. 
Teu é o meu coração, e é com ele que te ouço e te vejo sorrir.
Te aguardo, amado, me preparando pra ti. 
Me pergunto qual a melhor forma de te agradar? 
Te obedeço em amor, sabendo que obedecer ao que me ama é vida, pois também o meu cuidado é teu e o teu cuidado é meu. 
Obedecer, oboedire, audire ...
Ouvir a ti é firmar-me na vida, pois a vida é de tua autoria, por direito de criação e direito de redenção.

quinta-feira, 3 de março de 2016

A IRA NÃO É SINTOMA DE FELICIDADE

"Pronto para ouvir (...) tardio para irar-se".
São poucos os que sabem quem são; recorrente é saber o que se revela na ação. Sabemos sentir, mas expressar o que é sentido pode virar ação de forma difusa, confusa, cheia de ruídos. 
Ira parece estar na categoria da ação apressada. 
O que será que traz a urgência desta ação ...
Lembra da canção? "Tristeza não tem fim, felicidade, sim".
Tristeza poderia ser um bom palpite; aquela vozinha que apressa o passo, que força o galope, até que o que era ira se transforma em fúria, e a força da fúria é difícil de controlar ou fazê-la parar. 
A ira, depois que vira fúria faz o sujeito se transforma diante do olhar do outro, e talvez seja no que não queira ser. 
Nesta ocasião, a ilusão do poder pode bem enganar neste lugar de indistinção e pouca paciência, e desembocar na perversão do juízo.
Mas, se a tristeza se esconde no íntimo,como foi parar ali, quem a pôs?
Perverso caminho é o do que não segue o seu destino, o fim para o qual foi feito. Se não sabe o fim, volte ao começo, mas não começo de si, começo de tudo. Toda via, considere para si de modo que deva ser melhor o fim a que o começo.
Seguramente fomos feitos para sermos amados, e no que é amado a felicidade se encaixa. 
A ira puxa consigo correntes presas em seu calcanhar, em que o elo se concatena à indignação, fúria, raiva. Estas, por sua vez, cegam ao ponto de não poder ver quando se é amado.
De onde essa corrente vem? Qual sua origem? Como rouba a segurança? Busque entender. "Diga à Sabedoria: Tu és minha irmã; e ao Entendimento chama teu parente".
O que arrasta corrente é o que em algum lugar se fez cativo. O livre não, ele não arrasta corrente, nem se esforça para ser livre, pois já é esta sua condição, não há porque ansiá-la, está onde lhe é próprio.
Cabe a cada qual vasculhar onde o que o move o está levando.
A ira, por apressada que é não espera saber para onde está indo, só vai, e com força continua indo. 
 Por outro lado, a paz sei que leva à felicidade. Não me refiro àquela paz onde o que está no entorno não se move, mas aquela que mesmo diante da ira ou da força da fúria não se deixa contaminar. Aaaa ... Essa paz só pode mesmo desembocar na felicidade, pois quem a poderia roubar ou fazer com que dure pouco?
Então, certamente o que fez a canção não devia ter muita paciência.
João, o afortunado, bem testemunhou ao escrever o que ouviu:
"Eu vos deixo a paz; a minha paz vos dou".
Paz só pode ser dada, e só por quem a pode dar, por isso ela não tem preço, não se paga com dinheiro. 
A paz vem acompanhada da certeza de que se é amado.
O que deseja ter paz, e que não tem orgulho nem vergonha de pedir, pois que a peça, e que tenha buscado sabedoria e entendimento para discernir a quem, ao que a pode dar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

HÁ MUITOS MAIS MISTÉRIOS ENTRE O CÉU E A TERRA ...

Hamlet sabia do que estava falando ao dizer sobre o que a filosofia vã não pode saber, creio que também ele sabia a quem se dirigia.
Quanto mais procuro, mais há o que buscar. Quanto mais sei, mais tem para saber, e o que sabia não se fixa, parte se perde no esquecimento. 
Há as possibilidades de pensar-se de dentro ou fora de si. Isso não quer dizer que se possa divorciar-se do mim-mesmo para iniciar uma análise mediante separação. O que posso é ver-me no outro, como em um espelho, no que está próximo, mas que não está em mim. Mas, não falo de Narciso, nem do fim que o alcançou. Identificar-se somente consigo só pode dar nesse fim, pois quem que é mortal que possa ser fonte de luz. Isso é típico da arrogância.
Quanto a isso, com quem (ou o que) nos identificamos pode nos dar muitas pistas. Reflexos e difrações fazem parte do processo. Vou falar bem baixinho: - "Há luzes que não são luzes, só se parecem com elas".

Se pensarmos abstrato, o que não é luz?
Falo das coisas que formam coisas, das que aparecem, se revelam restringindo possibilidades. Sobre estas, volto a perguntar, o que não é luz? Se é, só pode ser luz. Lembrei do que ouvi: "Que se vão as coisas que são para as que são, e as que não são para as que não são".
O comportamento dela é curioso, hora matéria, hora energia, também pode ser os dois ao mesmo tempo, seu tempo é o mais rápido desse mundo daqui debaixo, nem dá tempo de piscar. Segue o menor caminho por meio de uma curva, sem demonstrar respeito por Newton e onde se encontra, as coisas aparecem.
Há centelhas de luz por todo o externo, assim como no interno pode vir morar também. 
Mas acho o que está dentro mais difícil de ver, há coisas que parecem estar torcidas. Ao olhar para as coisas que não são retas, elas podem esconder em suas valas de torção o que não quer e se esforça por não se revelar.
Penso como o que ouvi, que há os que são para a luz, e os que não são. Mas, saber os que são e os que não são, não se faz com inferência lógica, ela nem sabe direito contar neste caso, pois aritmética não funciona aqui.
Por meio da intuição, que se pode ver com centenas de olhos, e não apenas dois, se pode ver até o que está escondido na vala do torcido. 
de qualquer modo, o dois faz sentido: Um sim, um não, um negativo, outro positivo, a noite, o dia, um na luz e outro sem ela, um será deixado o outro será tirado.
Quem percebeu a dialética foi muito perspicaz, pois ela tem consigo ainda muitos mistérios. Hegel deve ter ouvido a Hamlet, foi atrás de uma filosofia que não haveria de ser vã. Quem tem ouvidos consegue ouvi-lo.
Penso que os que não se identificam com a luz, não há nada a fazer, mas aos que não conseguem discernir sua mão esquerda da direita, esses precisam de ajuda, de orientação para saberem que vieram da luz, seguirem no caminho dela pois são para ela. A esses que me dirijo, talvez possam se identificar.
Você que sabe que as coisas não permanecem ocultas, mas são reveladas em um momento ou outro, seguramente consegue ter vistas para fora do tempo.
O que é relevante agora é aprender a ler o tempo. 
"Há tempo para tudo debaixo do sol", "o resto é silêncio".

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A EFEMERIDADE DO QUE PODE SER OLHADO

O que é despedir-se se não a consciência do que não tem ainda lugar permanente ...
Quando o que aparece deixa de ser olhado pode ser esquecido ou perpetuar uma imagem vista que se esmaece, mesmo com a insistência da memória.
De que adianta apegar-se ao que aparece, porque pode desaparecer em um soluço.
As aparências mudam; quando mudam muito, se estranha, e quando não mudam, se enjoa.
Pele é proteção, não existe por causa de nada, tem seu motivo; quando deixa de existir pode ser por violência, que dali foi arrancada, ou por falta de serventia e se retira.
Pele é feita de pó, e o pó, em grande parte, feito de pele.
Será que o que deixa de existir seria somente por violência ou por falta de serventia? ... Não sei ...
Aprendi desde madrugada que corpo é estada, não é permanência. 
Um corpo atrai, mas não fixa para sempre; não consegue atrair para ficar, um dia se cansa e vai, se espalha.
Um corpo que dói merece atenção, para não se por em fragmentos, nem ir embora sem que se saiba; entretanto, tudo em demasia sofre seus efeitos.
Quando já não há mais tempo, de que adianta sentir as dores, só servem para avisar que há fissuras no muro, que não se sustenta mais, que o tecido está roto e que há de dissolverem-se as tramas. 
Comprai tesouros no céu, em que traça não come e ladrão não rouba, tampouco torna-se pó. 
Lá não se remenda tecido novo em vestido velho, nem se põem vinho novo em vasos velhos, pois as vestem não rasgam, nem o vaso se quebra.
Quando o tempo está por acabar, se não houver tesouro, só se consegue ver a dor.
Corpo feito de pó, mistura barro e água, ponha-se de pé o que estava caído; caído estava, pois, dali que veio.
Os que não nasceram da vontade do pó vieram da promessa, das coisas que não se veem, mas se espera.
Pó que por um tempo se ordena em edifícios com muitos andares, com vigas feitas do que lhe é próprio, de pó. 
O tempo está na medida: Do pó veio, ao pó voltará.
Projetos futuros ... Desaparecerão. 
Linguagem a ensinar e aprender ... Cessará.
Ciência? ... Passará.
Só uma coisa importa, e, escolheste a melhor delas, o que pode ajuntar o pó e transformar vasos de barro em ouro.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

UM CONCEITO VIVO: A BELEZA DA ALMA

Hegel disse ser o retraimento a beleza da alma. 
Ao ler por primeiro, achei até que poderia ser; depois pensei melhor e não sei se o retraimento seja o motivo de tornar a alma bela. Talvez Balzac concordasse com Hegel, mas confesso que eu não.
Falemos primeiro da superfície da ilusão para depois nos referirmos ao oceano da alma. 
Nem precisam muitas palavras, aprendi com uma criança, por estes dias, a responder como se deve quando se é intimidado. 
Essa criança era uma menina linda que deveria ter uns 6 anos; uma outra criança, que parecia ser seu amigo, lhe disse:
- Você é feia, e não brinco com pessoas feias.
No que, calma e educadamente, ela respondeu enquanto fazia ondinhas na água com o dedinho indicador:
- Todas as pessoas são bonitas.
Uau! Hegel deveria tê-la conhecido ... Pena que o tempo não deixa. Tive sorte: lugar certo, hora certa, palavras exatas.
Será que uma alma retraída poderia tê-la ouvido? 
Penso que todos sabem que escutar é bem diferente de ouvir.
Como também, olhar é bem diferente de ver.
Esta, por uns tempos, foi uma de minhas queixas: não ser vista.
Depois me perguntei sobre esta necessidade, pois, será que o que não é visto pensa que não existe?
Mas, existir também é diferente de estar vivo.
Vida é abundante, é sacudida, revigorante. Não faz pulsar somente o coração, mas é subjacente a ele. Não se retrai, transborda.
Penso ter ouvido isto, que a bela alma é a que é pulsante.
E, só para acrescentar, pois estava às voltas com outra criança de muito pouca idade, também muito perspicaz; ao observar e ver, me disse:
- Você olha lindo.
Perguntei como é olhar lindo; o que me respondeu:
- É achar tudo maravilhoso.
E concluiu ...
- Sua vida deve ser muito feliz.
Todas as pessoas são lindas, e as crianças, além de lindas, são radiantes de alma bela; É tão certo que delas seja o Reino dos Céus.