sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

AINDA SOBRE O TEMPO

Na perspectiva do tempo, o nascer não é o início, nem o morrer é o seu fim. 
Platão escreveu a respeito da natureza do tempo e do dia de sua criação, escreveu de um jeito bonito, um tempo tão majestoso: "Então, [o Demiurgo] pensou em construir uma imagem móvel da eternidade, e, quando ordenou o céu, construiu, a partir da eternidade, que permanece uma unidade, uma imagem eterna que avança de acordo com o número; é aquilo a que chamamos tempo." (Timeu, 37 d.). 
Não sei você, mas eu gosto de ler livros que falam sobre quem o tempo é. Pois, se não souber como ele é, como poderia saber contá-lo e saber como gastar meus dias e de que forma traçá-los.
Penso que por estarmos sob o domínio do tempo convém aprender a separar o que é precioso do que é vil, pois gastar o tempo com coisas vis é desperdiçá-lo. E como todo mundo já sabe, o tempo não anda pra trás. Ou talvez ande, mas até onde sei, não nos leva consigo quando assim se movimenta. Alguém importante sempre me fazia lembrar: "O tempo está passando ...". Parecia estar sempre com relógio em punho e pronto a apontar.
Acredito ser diferente o tratamento que o tempo dá aos que ficam presos em suas tramas, como já dissemos. Mas nesse lugar onde o tempo não anda, nada se renova e tudo fica igual, o padrão se repete sem nenhuma surpresa. Ainda assim ele não anda pra trás, não conosco, só se nega a andar. 
O mito de Sísifo faz lembrar que seja assim. Creio que o castigo que ele recebeu foi esse, ficar preso na trama do tempo, e nada mais havia de novo. Sempre rolando a pedra pro alto e ela voltando a descer, num retorno infindável de vã repetição, sem que nada se aprenda.
Não aprender me angustia, soa como sentença de morte! Será que existem muitos que não querem aprender? Se existirem, o que será que os convenceu a irem contra sua própria natureza, ou os deformou, tirou-lhes a forma? 
Nossa natureza deseja conhecer, é o alimento da mente. As crianças sabem disso e agem assim. Se não se sabe como a mente é e nem onde ela fica, uma coisa se sabe, que sua forma é aprender. 
A mente é muito de nós, consegue viver no amanhã, pensar um futuro distante, um passado remoto. Ela tem uma liberdade que o corpo não tem. Perdoem-me os que criticam os dualistas, mas nem isso eu sou. Sei que se podem ver três de nossas partes, nem só uma única e nem só duas delas, mas três: Espírito, alma e corpo, tudo entrelaçado. Será que vão me virar as costas por eu pensar assim? Se assim for, o que poderia fazer ... Mentir? Não quero! Prefiro não ser aceita ou que não me deem ouvidos.
Voltando a pensar o tempo, se é que mudamos de assunto, ele trás consigo promessas, entre elas as de Felicidade. Quem já não pensou em ser feliz amanhã ou depois de amanhã? Ou pensar que no amanhã tudo se resolverá, como se o tempo se encarregasse de escolher por nós. Talvez a mente e o tempo sejam feitos do mesmo tecido e com os mesmos bordados, o que justificaria tal ilusão.
A Rainha Branca do conto de Alice no País do Espelho desabafa: 
- "Gostaria de poder me sentir feliz! Mas não consigo me lembrar de como é a regra da felicidade. Você deve estar muito contente por morar nesta floresta e poder ser feliz sempre que tem vontade!" ... A qualquer hora.

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