quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

OLHANDO

Reparar, observar, fitar, mirar, olhar ...
Pode ser que olhar seja um ver demorado ...
Na duração do olhar pode estar a intimidade ... 
E, para quê intimidade? 
Aquilo que está dentro, que se move no interior, por vezes só se mostra para o que sabe olhar. Para o que deseja ver, quando se deseja encontrar o profundo e o escondido, o que não está na superfície. Em geral o que se guarda escondido tem muito valor.
Pode-se não ter intento de ter segredo, mas se não há quem olhe o segredo já está.
E o segredo insiste, tem teimosia? ... Talvez dependa do alcance do olhar, pois é por onde entra o desejo de querer estar, ou de ter. 
Mas, o ter não entra na intimidade, por que nem pedir pra entrar pede. 
Acredito que pode-se ter sem querer saber, sem querer olhar, só pra prender e deixar ali, sem se dar conta. 
Talvez por isso, que o que perde atina, atenta para o que perdeu, por não estar mais no alcance do olhar, por não poder entrar. 
Só pode entrar pra quem é dada confiança.
As distrações, as piscadelas, no fugir do olhar poderia perder. O querer tem tantas faces, que por vezes confunde.
Assim, olhar é trama de fita, de saber cuidar e lembrar do valor. E quem é que sabe?
De novo se olha pra ver do que se precisa. Olhar pra si é se dar valor.
Olhar pra si é diferente de querer ter.
A escolha se move no permanecer, prestando atenção nas dobras, fissuras, forames, texturas ... Reparar do que é feito.
O olhar tem seu tempo, pois, ao fixá-lo pode se cristalizar, endurecer. Se fica rígido deixa de ver , ou se olha pra um canto só.
Os olhos que veem, veem. Também tem o corpo todo que vê, ou partes do corpo que aprenderam e que querem saber.
No olhar se vê a si refletido, quer se esteja preso ou livre.
O corpo perto, junto, próximo, dentro, poderia ser tanta mistura até olhar com o olho do outro, um só olhar.
Em tempo de flerte, olhar presente é caro, é raro.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

PORQUE TODOS CARECEM DA GRAÇA DO DEUS DE PAZ

Durante algum tempo acreditei não precisar de quem me salve. Salvar do quê, pensava eu ...
Quando se tem a ilusão do controle, em que as representações que temos do mundo parecem encaixar, ao menos em superfície, assim nos tornamos ébrios; e assim, não parecia carecer de quem tem poder pra salvar. 
Aaaaaa ... Mas, a angustia faz lembrar.
Lembrei de ouvido que o Salvador é socorro bem presente na hora da angústia. Gracias!
Então, entrei no corredor da digressão e passei a configurar:
Por que somos forjados a pensar que a vida começa em nós? Ou ainda, pensei na ideia insistente de muitos que acreditam que outras vidas caberiam em um mesmo ente, que existências passadas houve e que elas coubessem no ego presente; agora me parece que só na primeira coube, pois, aos homens foi ordenado morrer uma só vez, vindo depois o juízo. 
O ego bem sabe julgar, com dedo em riste.
Só o que tem poder sobre a morte pra ordenar que seja assim, que não se deve morrer muitas vezes, basta que seja uma. Gracias!
Ninguém tem maior amor se não aquele que dá a vida em favor de outro que iria morrer. Gracias!
Da necessidade de desejar ser, temos necessidade de salvação. E quem nos tiraria da ilusão que projetamos a nosso próprio respeito ou da distorção que outros nos fazem acreditar?
Quem disse que a personalidade é a primeira parada para que acredite nela? Vieram tantas culturas antes da gente. E as informações que nos compõem, vieram de longe, passadas de pais para filhos ao longo de muitas gerações. 
Seguramente, da inércia haveríamos de carecer sermos salvos, pois o ente, que deveria ser para o movimento, se move só com esforço. Gracias!
Que abismo há entre os desejos e a realidade?
Não me entregue aos meus próprios desejos, muitos são contra mim, e, por ser assim, careço de salvação. Gracias!
Realidades podem ser muitas, quando se deseja criar um lugar abalável. Com poder de desejo, telhado de ilusão, argamassa de areia se constrói, porém por tempo bastante breve. 
Pra mudança se precisa ter consciência de eternidade, pois um dia se tem a esperança de achar o próprio lugar.
O Um só que pode salvar, e também fez uma promessa para os que reconhecem sua voz; as promessas que faz Ele as cumpre: "Vou preparar-vos um lugar". Gracias!
Como me afeiçoo com o que dura; a eternidade deve ser assim, sem ego. 'Se teu olho é motivo de tropeço, arranca-o e jogue-o fora'. Arranque de mim o que me impede de crescer. Melhor é ficar sem o ego, mas ir para o lugar que me foi prometido. 
Sempre gostei de surpresas boas. Por fé as espero. A fé é a firme convicção das coisas que se espera, mas que não se pode ver ... Ainda ...
O ego tem por papel impedir que o que está velado revele-se para a consciência. Ele não deposita confiança; compreendo, pois têm medo de morrer. 
Não quero esse medo, o rejeito com veemência. Sei que posso escolher, enquanto há tempo, sei que posso. Gracias!
Que eu diminua e que O Príncipe da Paz cresça em mim. 
Muitas Gracias!

domingo, 16 de novembro de 2014

DESEJO ENTRELAÇADO COM RAÍZ PROFUNDA

Amado da minha alma, pra quem entrego meus dias, por quem meu íntimo suspira e que anelo desde muito tempo do que sei contar; amado que me espera sair de mim, deixar o que não é meu, soltar o que retenho e que em nada é necessário, pra ficar leve e voar para ti.
Tua doce companhia não foi percebida por um tempo, e por um par de minutos negligenciei teus conselhos, pois ao invés de buscar sentir, queria saber, e no saber tua presença não cabe. O que É, não pode ser contido em recipiente tão estreito. 
Como disse um conhecido, só um Deus muito poderoso pode ter paciência para esperar que se amadureça. Só um Deus muito poderoso pode pinçar com delicadeza a pele que me dá ilusão de proteger o que não sou capaz, nem me compete zelar. 
Amado da minha alma, a vida é tua expressão, em ti está contida. Se nem da vida conheço, quanto menos saberei de ti; mas, não me contento em não saber. Porém, agora, quero também sentir, quero experimentar. Teu fôlego é o que dá realidade a minha respiração. Tua atenção estava aqui, mas eu não podia ver, tampouco sentia, por isso não te agradeci. Me habituei a respirar, a receber, a me comprazer sem saber da origem. Mal educada que fui, não me detive em agradecer todo esse valor. Quero aprender a apartar o que é precioso do que é vil, e ser como tua boca.
Amado da minha alma, em quem minha vida faz sentido, quero ser melhor do que fui. Teu olhar pra mim me faz muralha de bronze, em que os que intentam mal não podem prevalecer.
Deixa eu ficar aqui, junto de ti e não ir embora, nem me deixar levar, nem mesmo um passo em outra direção que não o teu coração.
Não confio em mim, pois o medo por vezes me assombra. Melhor que não seja medo, que seja reverência ao lembrar a quem pertenço e de que um Deus só pode ser tratado como um Deus, não há outro modo.
Um Deus Humano que sabe o que é ter necessidade, como também sabe o que é sofrer, sabe também como é se alegrar, e também como a gente se afeiçoa; me ensina a ser humano assim.
Os fios do pouco fôlego que tenho estão conectados à tua grande malha, sou lasca desse tecido do Corpo. 
Que seja o teu tempo, no teu lugar, mas que eu esteja onde o amado da minha alma estiver. Desejo estar no teu Reino.
Me livra do mal.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

EXISTEM MUITO MAIS COISAS FORA DO NOSSO CONTROLE

Geração arrogante, mesmo sendo bem menor que grão de mostarda, ensina a como fazer o mesmo aos que ainda hão de vir por depois, como se tudo tivesse início em seu tempo de vida. Pensa saber tanto, faz afirmações concisas, fala a respeito de impossibilidade lógica, permite-se a intolerâncias diversas, faz como lhe dá prazer (sem nem saber de onde ele vem), pensa poder encerrar tudo em uma mente só, ou em poucas porções, o que é centelha de um incontável coletivo de grãos bem pequenos.
Nem a mente sabe o que é ... Nem corpo sabe dizer no que consiste ... Quer falar sobre o mundo? ... Como criou a si, sem nem mesmo saber como repetir a experiência? Que espécie de ciência é essa, sem fundamentação última.
Seres de baixa frequência se contentam com o que está rasteiro, seguem por arrastar o ventre no chão; perspectiva rasa, baixa, quando se vê com o ventre colado ao chão.
Amplie sua onda, deseje estendê-la, pois a boa nova é que o céu conspira para os que querem chegar a frequências de longo alcance, de cor azul. Essas ondas têm grande amplitude.
Por que amar o escuro mais que a luz?
Se acha mesmo cheio de sabedoria? De que adianta saber aos seus próprios olhos, sendo que eles não produzem luz. Quando a vir, pois os olhos só podem ver, siga a luz, se não for cego. 
Não te culpo, não quero fazer com que se sinta pesado, só chacoalhar pra que perceba enquanto houver tempo, ainda que se pode achar; sei que a geração em que nasceu se esqueceu de onde veio, nem sabe para onde ir ... Tampouco sabe para onde QUER ir. Só sabe que quer ser feliz, sem nem saber que felicidade não é um ente, nem mesmo lugar, porém um modo, assim como a liberdade é uma condição.
Vai ter com a formiga; ela sabe voltar pra casa, ainda que vá muito longe.
Por que negar quem te criou? O que ganha com isso? O que perderia se cresse? Escolha a vida e escolha a benção!
Quem te fez deixou os sinais. Se as coisas têm assinatura, tanto mais o que criou as coisas que têm assinatura. 
Queira ver e irá ver. 
-"O que queres que te faça?" Só para os que são do mesmo aprisco podem reconhecer essa voz.
Numa natureza em que tudo há propósito, porque o que é homem não teria algum? 
Pensemos juntos ... No que é de artifício: Concreto armado só é sólido posto em relação, em si não tem propósito, não tem pra onde ir. Casas empilhadas que têm parede não costumam frequentar outros lugares, encerram seus limites em si.
Acha mesmo que não precisa usar suas pernas? Se sim, então, provavelmente já rifou a parte que te faz pensar, pois se a perna, que te leva, perdeu sua serventia, tanto mais o que planeja aonde desejaria ir; como se parede pudesse conter uma alma, se crer nisso e agir assim vai é se deprimir. 
Mas, enquanto tem vida há esperança ... Respire.
Todo ser que respira louve ao que o criou.
Retifique o desejo, busque saber de onde vem, e aonde poderá te levar. Cuide pra que seja um lugar e não um modo. Pense se quiser: O que te move? Se se perdeu, não busque a quem culpar. O que julga, julga a si e se coloca no cárcere. O que perdoa não tem amarras. 
"Não preciso perdoar, não tenho amarras". "Sou motor imóvel, movido por mim mesmo". Frase tão comum nesta geração arrogante. Também já ouvi: "Somos deuses". Que tipo de deus poderia ter esse status sem ter poder pra ir muito longe. Arrogância? ... Ainda?? ... 
Acha mesmo que pode equilibrar-se em teus próprios pés? São pés de barro, foram feitos assim, pra não se afastar de quem te criou.  
É bom depender. Mas, compreendo se não acreditar. 
Depender de um Deus, do que te criou é bom, só pode ser bom.
O ego é uma invenção de mau gosto, tão artificial quanto os compartimentos de concreto. Quem foi criado para depender, não poderia mudar a si, tornando-se independente. Poderia escolher não depender de homem, por ser igual a si, tão dependente quanto.
Uma raiz para muitos males? A ilusão de haver um ego. Aponte-me o ego no cosmos; nada mais parece ser se não o desprender-se do contínuo, desconectar-se. Ego não é ente, assim como a felicidade não é fim, como a ausência de luz não é substância, mas que porém subsistem só por um palmo de ilusão, absistem sem dadidade. Nem todo nome pode fazer criar uma realidade. A Lua não tem em si sua luz, nem por isso desconecta-se da órbita para reivindicar um ego pra si.
Insisto, que procure o que disseram os que vieram bem antes de ti: Qual a tua natureza? De que substância é feito? Quais as leis que te regem? Aonde é tua morada?
As formigas estão aqui a tempos, e não parecem ser de mudar costumes, elas mantêm seus hábitos, parecem saber quem são. Não se aborrecem por ter de dividir. Também desconheço as que não tenham casa. Elas não leram os clássicos, tampouco a tradição analítica; Crítica da Razão Pura? Não, pouco provável ... Argumentos solapadores? ... Pra que, se constroem em conjunto.
Geração arrogante (da qual não escapo), sabe mesmo o que é ter inteligência?
Pensemos nos que são mais próximos, os mamíferos. Mas, de que adianta ser mamífero se não se é racional ... Os que não são racionais não estão próximos, pois existe uma cadeia evolutiva. Duvida? ... Poderia demonstrar: Lobos não poderiam ensinar, isso só os que raciocinam de forma correta e adequada podem. Eles não fazem projetos, nem constroem cidades. Os lobos estão distantes na taxonomia dos que dizem saber que sabem. 
Haveria alguma dúvida ainda? Ora, os lobos agem por instinto, não fazem cálculos diferenciais, nem plantas baixas. Mas, alguém poderia pensar que sejam organizados, pois vivem em alcateia. Mas, agora isso é peremptório, solapador: Lobos são muito hostis, não são domesticáveis, são selvagens, logo, tampouco poderiam ser civilizados, são irracionais, violentos ... Exatamente ... Lobo é uma espécie primitiva, que vive em alcateia, sem nenhum concreto.
Além do mais, talvez pudesse dizer ... O lobo não é o homem do lobo.
Quem não precisa de um salvador?

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O QUE NÃO É CONSCIENTE PERDE-SE NAS PARTES

Estar em um lugar não significa que se esteja por inteiro. Pode até dar a aparência, mas basta ver o olhar e ouvir o que se fala pra flagrar se há presença ou ausência presente. 
Já vi pessoas sem partes, que não sobrou nem um pedacinho de si; a casa ficou vazia, só ficaram as paredes banhadas de escuridão.
É tão comum e fácil perder o desejo de um dia ser um inteiro, e deixar configurar-se em muitas partezinhas espalhadas por aí; até que o vento leve para longe ao ponto de não saber voltar, se é que partes sabem ir ou voltar. 
Quer saber? ... Acho que partes nem sabem andar, tampouco trilhar caminhos. Penso que partes nem alfabetizadas são, muito menos poderiam dirigir-se pra algum lugar sem que sejam levadas. 
Pelo que sei, só consciência sabe para aonde quer ir, assim que o corpo anda com rumo.
Partes de corpo fora do corpo nem vivas ficam; e a gente bem sabe, que se sai a vida, sobram só paredes. 
Também não sei se partes flotam. É bom ficar atento, porque nadar também não devem saber.
Assustador pensar que partes ao caírem em lugares abissais não podem mais ser recuperadas. Meu mais sentido lamento para as partes sem possibilidade de enxerto, pois essas perderam tudo, tudo mesmo, até a esperança. As partes que perdem esperança se perdem pra sempre.
Como para cada caminho escolhido se seguem as leis impostas em sua configuração, estar em muitos lugares ao mesmo tempo não dá pra ser por inteiro em nenhum lugar. 
Daí se segue que perder-se no passado é perder-se num sabe-se-lá-aonde, que nem lugar tem. 
Sinto muito dar esta notícia aos que sustentam suas expectativas na segurança do passado, mas é que o Passado é de nenhum lugar; por isso que ao insistir em lhe fazer visita não o encontra em casa, está sempre só de passagem mesmo. O passado é assim, é o jeito dele, não há nada que se deva cobrar, pois é sua natureza se dividir em partes que se apresentam à memória aos saltos; e se nos faz visita, apresenta-se nos sonhos. Quanto ao Passado resta só resignar-se, ele é de temperamento difícil, não é maleável. 
No futuro também não se pode fixar; mandar as partes para lá não é nada seguro, pois o futuro ainda não tem chão. 
Quem tem costumes sedentários é mesmo o Presente, mas quem se interessa? Quem o ouve ou mesmo o vê. Pobre Presente, se dá, se doa, mas talvez por isso, por ser tão disponível passa a ser sem valor, rejeitam sua realidade; dizem ser óbvio em demasia, muito frugal. Confesso que me sinto atraída pelo Presente, meus olhos o veem cheio de garbo e elegância, um cavalheiro.
Vai saber o que se passa ... Talvez Passado e Futuro sejam mais sedutores, galanteadores, misteriosos, pois sempre se tenta entende-los, enquanto que o Presente se mostra muito às claras, sempre disponível. É justamente o que me atrai.
A boa notícia é que se pode ser inteiro ainda que num mundo de muitas portas e gavetas. Há de se ter perseverança e seguir em um caminho, sem se distrair, mas estar a convergir. 
O presente, como é disponível e solícito, oferece moradia.
A consciência expia, mantendo longe a disposição para vertigem, pois os que sofrem desta disposição, ao verem um abismo logo lhes impulsiona o desejo de lançar-se. O prejuízo é certo, pois ou partes se desprendem (tentadas que foram), das que não quiserem ir, ou o todo no nada se dilui. Abismos são feitos de abismos. 
A consciência apresenta razões, fazendo lembrar ao corpo de que sua natureza não é ser em partes, mas ser por inteiro, em relação, num todo em mesmo lugar. 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

COMO FAZER CRESCER A ALMA

Sabe ...
Como não vou acreditar em uma dupla natureza que há num mesmo corpo. Pensando melhor, tripla ...
Há o Um, mas que só se reduz até o três. O um que é três.
Devo voltar a aprender a contar, para também contar os dias, e saber que para o corpo o limite do tempo está posto, mas para fazer crescer a alma, esse limite não se impõe.
Para correr da ignorância se tem de expandir, e deixar de ter de gostar de um ou outro, querer bem a um ou a outro. Fugir da aparência da utilidade vazia, sem finalidade, a que tem por nascente o egoísmo, no exclusivo amor a si. Coisa de quem não quer crescer.
Me parece que quando se fica na superfície o que subjaz fica vazio.
O vazio, se ocupa. A questão é quem (o quê) irá ocupá-lo. 
A consciência precisa estar atenta para que o vazio não se instale, ou quem não deveria estar no que não lhe pertence. Bem se sabe que a consciência não deve ficar fora de casa.
Já ouviu que quando se encontra a casa limpa e vazia, após ter sido expulso o invasor, tendo-a deixado suja e bagunçada, este quer voltar? E se não encontrar resistência, volta sim, ocupando o espaço que estava vazio, e sem pedir licença, se faz passar por dono.
O que é dono da casa só entra com convite, pois entregou sua administração ao que usufrui de sua morada. O momento sublime se dá quando o que usufrui dela convida seu dono a entrar, e Ele, generoso que é, faz benfeitorias, preenche os espaços, com decoração de fino gosto. Uma decoração com fim em si, em que seu valor aparece, o que há de mais protegido brilha, e luz manifesta-se em substância.
Reformar a casa, expandir o telhado e as cercas, aumentar a construção para que caiba ainda mais, para que não precise dividir, nem escolher, de modo que caibam muitos, em lugar amplo, confortável e seguro.
Toda atenção para não deixar entrar de qualquer jeito, com qualquer roupa, de qualquer modo ou sem modo nenhum, sem trato, sem saber respeitar. As vestes são expressão de identidade, não são fruto de moda, mas de personalidade. Olhe as vestes e observe o fruto. Se as vestes são limpas e o fruto é bom a árvore é da vida, e vida é o que faz crescer.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O LUGAR DA EXPERIÊNCIA É O SUJEITO

Como poderia olhar o mundo se não a partir da experiência?
Ler uma boa narrativa é uma experiência, porém em grau menos elevado a que a experiência vivida per si.
O rapsodo não nos pode contar o que havemos de sentir ao experimentar. Sentir envolve todos os sentidos, inclusive o coração.
Quando um narra, ou argumenta, nos afeta; de um ou de outro modo nos afeta. Mas, a alteridade do mundo dos fatos parece ser reverberante, traspassa por onde reverbera e também pode unir as partes que antes não se compreendiam.
Significados são muito mais que letras, são vivências, palavras em ação. 
E como saber o que o outro viveu? Só posso imaginar, e saber o que me disser, e acreditar.
Por isso é importante saber se a fonte, que se tem de acreditar, ama a verdade, ou seja, está comprometida com ela. Será que trocou aliança? Se não está, não creio que seja frutífero apoiar-se nesta. Ela nem precisa de intermediários mesmo, pode dar-se a conhecer a quem se afeiçoa. A verdade compromete-se sem adulterar, pois faz parte da ordem do tudo e do todo, é ampla por demais, se estica de um horizonte ao outro. E olha que isso é o que dá pra ver, pois tem verdade que nem revelada foi.
Mas, pra continuar a conversa, viver sem experimentar faria sentido? Mas, pensando bem, experimentar sem escolher também parece arriscado.
Sei que não quero ser lida em qualquer livro, nem por qualquer um, nem de qualquer jeito, como se não fosse eu, tampouco em baixa frequência. 
Mas, sabe? ...  Tenho ficado tão transparente que nem sei se posso ser vista, quanto mais lida ... O que me preenche por completo é o que se faz conhecer em mim, através de mim, também por mim.
E falando de ver, a partir de onde se está se vê de um jeito. 
Aí, importa mover-se, subir a frequências mais altas, para que se possa ver amplo, ver do bem alto.
Qual o caminho que alarga e suspende a vista se não o da via do amor? O amor, até onde sei, e em parte experimentei, é alto, não caminha em baixa frequência, não se rasteja, manifesta-se somente nos tons de azul. Vê a partir do céu ou do profundo do mar, que é uma altura às avessas. 
Vai ver que por isso que a paixão não é azul, é vermelha, é de baixa frequência, pouco alcance, não penetra fundo, fica olhando a partir do raso, na superfície, sem força, pouco alcance.
Como é precioso ter os olhos descosturados, ouvidos sem pálpebras e coração sem véu, e principalmente, com o apoio do que zela por amor, para poder viver com integridade no tempo presente, sem que as fissuras das feridas abertas obstruam a experiência do genuíno e sublime ver do amor.
Só assim posso ser sujeito.

domingo, 27 de julho de 2014

O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS

A algum tempo atrás, ouvi um índio falar muito sobre perfeição. Dizia ele: "(...) Quando formos perfeitos". E ainda: "Os que são perfeitos (...)".
Desconfiei daquela fala e pensei ser aquele índio demasiado ocidental. Parecia pensar como um clérico. Até que quase por impulso perguntei:
- O que é ser perfeito?
E ele me respondeu:
- Ser perfeito é saber tudo.
Aí sim, vi que era mesmo um índio, pois resposta inusitada assim, e tão coerente, não tinha ouvido ainda. Por certo quem lhe ensinou, sussurando às farfalhadas, ou por suave brisa, imagino eu, foi a Natureza.
Temos tanto que aprender com os índios, temos de achar o caminho de volta. 
O corpo chega num ponto que se definha, pode nem ter sido perfeito, sabendo pouco, não crescendo muito, por fim ele definha. Já, o espírito ... Aaaa ... O espírito pode crescer, seja o corpo que for, quem sabe até a estatura do perfeito. Existe uma promessa que diz ser assim. E o que prometeu não mente, é Ele próprio o autor da verdade e sabe o que é ser perfeito.
Pensemos juntos: Para saber é preciso tempo, não é? Mas, só o tempo não é suficiente, pois se pode ter tempo e usá-lo para andar em círculos e não crescer. É preciso também que se tenha humildade para pedir ao que é perfeito que se possa ascender à perfeição. Pois, quem tem o conhecimento é que pode dá-lo. Pedir e esperar por resposta é o que se tem a fazer. O que te parece? 
Mas, se não se crê que haja um que seja o dono de todo saber, e que é perfeito, por que iria pedir-lhe que eu saiba? Não faria sentido. Expresso que eu escolho este caminho. Creio Nele.
E o que não crê, de onde irá partir, então? Pergunto e também respondo: - A natureza é quem poderia dar pistas. Não é razoável?
Se pensarmos para trás, desde quando começamos a viver empilhados nos separamos mais e mais dela, até tornar-se uma estranha. Esquecemos sua língua e não a entendemos mais. Depois deixamos pra lá, para que fale sozinha.
Como em um relacionamento rompido e cheio de desconfiança se poderia entender o que a Natureza diz? Quando queremos algo dela tomamos por violência, e geralmente não se quer conhecê-la, nem tampouco as suas razões, nem acessar sua intimidade.
Já pensou que querer ter informação está relacionado a desejar poder ... ou intimidade.
Então, quem sabe quando nos dermos conta e esse divórcio possa ser dissolvido, possamos ver quem ela é, e ao vê-la nos reconheçamos, e ao reconhecermos possamos saber mais, e o saber mais possamos despertar a consciência de que não deveríamos ter nos separado. Assim que nasce o arrependimento, um bom fruto por sinal. O amor é sua raiz, penso eu.
Quem disse que este não é o melhor dos mundos possíveis? Já andou pela redondeza?
Talvez possa não ser no agora, mas o agora é tão breve, vejamos no tempo do por vir ...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

SOBRE A REALIDADE DA PALAVRA

Sem a pretensão de provar, mas por sentir, sei que o mundo é feito da Palavra. São assim: Primeiro vem a Palavra, que forma tudo, depois ela se condensa e vira energia, e por fim, se condensa ainda mais e se mostra como matéria. A matéria é a palavra que se cristalizou, pois a quem obedecem os elementos subatômicos, se não a um comando? Esse comando reconhece a voz do que sustenta tudo com a Palavra. É Aquele que tem poder para ligar e para desligar. 
O natural é reconhecer a voz do que o criou. Deveríamos ouvir a deontologia que se alinha ao que é natural.
Muitos se comunicam, de acordo com os múltiplos modos de se acessar e trocar informação. 
Mas, falar ... Falar é para poucos.
Já se perguntou o porquê falamos? Tempo desses perguntei, e riram-se, julgando ser uma pergunta estúpida. Seria mesmo? ... Acho tão extraordinária a nossa existência, sermos seres de fala. 
Falamos com sintaxe, com semântica e na Pragmática. Uau!! Quantas categorias! Não poderia dizer "dimensões"? ... Hmm, não sei se me deixariam ou se eu me faria entender. Deixo a taxonomia para quem se diverte com ela.
Sabemos que comunicar é possível, e é possível sem falar, pois dá pra "falar" sem ser com palavras. Então, por que falamos?
Não há de ser qualquer coisa que deve ser falada, estou persuadida de que o sagrado faz parte da natureza dos seres que falam. Temos de escolher o que falar, com todo cuidado. Daremos conta de cada palavra ociosa, pode ter certeza. Eu tenho certeza.
Falar qualquer coisa contamina a boca; não só a boca, mas todo o interior. Pois, o que contamina os seres de fala não é o que entra na boca. O que entra de sólido já está definido, determinado, mas, é quebrado pelo poder que os corpos têm para quebrarem em pedaços bem pequenos, separando o que convém do que não convém. Jogam fora o que não há de ter uso, o que entra, sai sem avaria. Mas, o que sai não se pode recolher o que foi lançado, o que por isso, se for ruim, contamina como veneno, contaminando o que está fora e o que proferiu o que não deveria ter sido dito. 
Leu sobre isso? Li, nas Palavras de Vida Eterna.
A queda é certa quando não se vigia sobre ela, a boca, quando não há guarda para alertar sobre o que se fala, qualquer distração nos pode trair, e lá se vai um degrau abaixo ... ou muitos. Quem pode saber que tipo de queda, se a que impulsiona para a vida, por meio do arrependimento, ou a que traz a morte, pelo rancor.
A Palavra cria. Traz a existência o que não tinha aparência. 
Enche a mente e o coração. 
Faz promessas.
Faz nascer expectativas. 
Bem DITA ou Mal DITA palavra. Quem escolhe uma, escolhe a vida, e a outra, a morte. Não há campo neutro para os seres de fala, ainda que se emudeçam, não há como suspender o juízo. 
A escolha se move em um contínuo, nem a ilusão tem poder para freia-la.
As que ponho aqui, neste campo anguloso, sopram a vida e o desejo de que se cresça e se faça crescer. 
Aonde tocar essa palavra dita, que gere vida e vida em abundância, vida aos baldes! Porção recalcada, que transborde, que sobeje. 
A Vida, essa vida que não se acaba é gerada pela Palavra, que havia dito uma vez, e não sei dizer sobre outra melhor, que se fez carne e habitou entre nós. 
Bendita Palavra, que pelo teu sussurro me sopra o fôlego, faz arder e enche de plenitude a alma do que ouve a Sua voz e que te põem em prática.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

"HABITAR MEU NOME"

Uma das invenções com consequências desastrosas é a ideia de indivíduo. 
Como pudemos acreditar? ... Pensando sobre isso, te parece plausível?
Pensemos juntos, por algum momento: Para haver indivíduo este tem de ser Um, e esse Um tem de ser inviolável, não seria assim? O inviolável não pode se dividir, pois é indivíduo e não "divíduo". De onde tiramos a ideia de que isso tem a ver conosco?
Estamos em tantos e tantos em nós. A divisão parece ser nossa condição primeira, pois as escolhas, ao menos duas, sempre se impõem aos seres de possibilidades diversas, cobrando-nos uma posição. 
A própria ideia de identidade parece ser contrária a de indivíduo. Para se ter um idêntico deve haver no mínimo dois, um igual a si mesmo. Neste sentido, Hegel foi perspicaz, ao trazer à tona a negatividade e expor que o não-ser é também o outro do ser. 
Sobretudo, esse ser é feito de muitos movimentos, movimentos que exigem de violência, movimentos violáveis. 
Ele se desdobra a cada movimento dialético e se revela aparecendo de um outro jeito.
E as implicações que esta falácia do indivíduo traz consigo, então ...
Já ouviu a frase: - "Ninguém tem nada a ver comigo!" 
Como não?! Todos temos a ver com todos, direta ou indiretamente, temos.
Achar ser indivíduo me parece ser a escolha de seguir a ignorante arrogância. Ela sim é uma semente ruim, erva daninha, fermento que leveda toda a massa. 
Mesmo o nome que parece ser individual é habitado por um tempo, e pode ser habitado de novo e de novo. 
Por agora, habito Tiziana, mas espero dividir habitação com Tereza, Rute, Ester, Mônica e tantas outras com as quais me identifico e me sinto um, num "indivíduo" coletivo.

sábado, 24 de maio de 2014

O "SUJEITO DO ESTAR"

Trago comigo a consciência de que, em última análise, traçar linhas que delimitem a forma a um sujeito vivo não é verdadeira, mesmo tendo pretensão de verdade. 
Pois, dar forma seria semelhante a julgar. 
Explico o caminho pelo qual cheguei até aqui ...
Julgar implica não somente em sentenciar. 
Em termos incipientes, há uma estrutura que envolve o juízo, que à princípio é a de descrever a alteridade, o sujeito de estar do outro. Nesta dinâmica, as generalizações parecem servir de modelo para reduzir o tempo de determinação do juízo sobre os particulares. 
Esta estrutura poderia estabelecer critérios do quanto vale e o que merece receber o que está sob judicação, para sentenciar o lugar que há de ficar e por quanto tempo, ou mesmo o que fazer com o que é julgado.
Mas, como saber o tamanho das coisas que se movem? Aonde elas irão caber? Das coisas que se esticam e se encolhem e não param em residência fixa, como prever? Se se pretende rigor ao julgar, um julgamento sem erros, sem equívocos, deveríamos julgar os mortos, não faria mais sentido? Estes não se movem mais, nem podem se arrepender, pois já passou a vida. Mas, aí poderíamos pensar: De que adianta julgar os mortos? Já foram castigados pela privação da vida.
Ao pensar nos mortos, logo pensei que o egoísmo é incompatível com a indeterminação do sujeito vivo, retém tudo para si, e depois não consegue se mover. Pois, impõem limite ao que não está morto, ao que não foi determinado. Que atitude suicida parece ser a do egoísta, escolhe (por vezes sem saber) morrer ao longo do curso da vida ...
Me lembro do que foi dito: "Se amar tua vida irá perdê-la". Faz sentido.
Foi caminhando por aqui que me aproximei do "Estar" do Sujeito, do estar sujeito. Aprendendo também que "ser" não é o mesmo que "sujeito", mas este é outro assunto.
Lewis Carol, bem que sabia, que cada pílula que escolhemos tomar tem seu efeito, em que se pode esticar e passar a estar GRANDE ou mesmo encolher e tomar a forma do pequeno. Quem não se sentiu de um jeito ou de outro de acordo com as escolhas que fez?
Seguindo por aqui, percebo que não se trata de colocar em oposição a permanência e a contingência do sujeito, mas é uma outra estrutura que percebo - Topográfica. 
Quanto a isto, novamente Carol soube discernir muito bem, e fez Alice andar pelo país das Maravilhas, descrevendo o que via. Segui por aqui, assim como ele, ou como Alice, testemunhando o que via.
Este "Estar" dos sujeitos é um recipiente, em que podemos, em condição de liberdade, escolher a forma.
Sobre isto, lanço uma questão: "Sujeitos ao estar" podem julgar e determinar uns aos outros sobre qual recipiente ocupar? Creio que podem opinar, seduzir, talvez, manipular poderiam, mas julgar ... Julgar efetivamente, não creio. Pois, o recipiente em que o sujeito está não é determinado pelo que está de fora, por vezes nem percebido. 
Apesar de muitos viverem compartimentados, o recipiente que dá forma ao sujeito não é feito de paredes, é que elas não conseguem conter um sujeito.
Além do mais, o todo não se revela num tempo só, e nos compartimentos da casa, estar num tempo em um dos lugares é condição exigida. 
Ouvi isso uma vez, e tendo a concordar, que os que estão de fora podem arrombar uma casa, mas não podem intencionalmente forjar o sujeito do estar. A decisão tem de partir de dentro, e é o coração que se abre para que se possa entrada. 
A prudência é requerida aqui, pois o coração, que também é um órgão perceptivo, pode enganar; como nos enganam os demais sentidos.
Como já dito antes, enquanto há vida, há esperança,ou melhor, há como se mover: esticar ou encolher, apagar o que foi desenhado.
Meu desejo é que cada qual sinta onde está; e cresça o quanto puder; sem medo de se esparramar. Mas, claro, mediante a prudência, ao procurar o lugar do "Um que é GRANDE", que tem poder para unir as partes; Aquele no qual podemos nos perder (e depois achar) sem medo de ser julgado, pois para O Um que é GRANDE" a fé, ao nos lançarmos, nos é imputada por justiça. 
Confiar no que é confiável é justo. 

sábado, 3 de maio de 2014

TOPOGRAFIA DE UM LUGAR EXPERIMENTADO

Já esteve em um lugar que se sabe onde está, mas não se sabe como fez para lá chegar? ... Falo de um lugar sem chão.
Estive lá hoje, pude me expressar, advertir, comunicar, indicando o único caminho, o caminho da vida plena, da vida feliz.
Que são vários os caminhos, isso já se sabe. Mas, sabemos que temos de seguir por um, escolher seguir um único curso. Escolher mais de um é vagar.
A quem hoje falei, há de saber que fui eu, pois eu também sabia saber. Estávamos juntos, numa canoa sem remo. O perigo era eminente, e a face, já bem machucada, expressou estar presente, com olhos bem abertos, desejando não mais sentir dor.
A presença se concretiza quando a percepção da consciência presente se manifesta em conexão.
A topografia das coisas que não se veem, mas se sente, podem manifestar qual o caminho escolhido.
Pois eu grito: "ESCOLHA A BENÇÃO E ESCOLHA A VIDA".
Maldição e morte não servem de nada, só pra fazer sofrer, são um eterno lamento.
Pessoas são preciosas per si, mas há uma que trouxe pra dentro de mim, que ainda que busque a desconexão, para não ser puxada por onde não quero andar, ainda assim, o elo não se desfaz.
Pois venha andar onde estou. Eu escolhi a Benção e a Vida, e não voltarei atrás, pois é nesta escolha que a Felicidade habita.
Venha, não tema, confie.
Ele é o caminho, o melhor dos caminhos possíveis e impossíveis, aos que são seres de transparência. Somos atraídos quando desejamos ardentemente. Os iguais se procuram e se atraem.
Se tem ouvidos, ouça.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

PESSOAS, LUGARES E CAMINHOS

Muitas vezes a impotência é o que se pode sentir, quando se quer ajudar, mas não se sabe como.
Saber o que precisamos não é uma tarefa fácil. 
Não sei se carecer é o mesmo que necessitar. Mas, sigamos pela necessidade, então.
Creio que comecei a entender a necessidade pela Paz. Sabia que precisava de Paz, e que não viveria bem se não a buscasse.
Mas, a Paz foi um começo, um ponto de partida de uma jornada que está em andamento. 
Parece que quem tem caráter, tem também a paz. Já li que para se formar o Caráter é preciso longo tempo.  
O critério de relevância aplicado foi o de buscar ter caráter. 
Teria de perseverar na coerência, oras. 
A malha foi sendo tecida, e mais um fio se juntou à trama, a Narrativa. 
Lembro-me de dizer uma vez, quando pretendia produzir Arte, desejava que essa Arte não fosse oca, um papel em branco. De que adiantaria ter forma sem ter nada a dizer.
Com as somatórias das escolhas se pode fazer um enredo, mas, como escolher se houver muitos? 
História, por menos linear que possa se apresentar, segue um caminho, pois o tempo e o espaço limitam, e acabam espremendo até chegar no Um. Que Um? No Um caminho.
Quando só se tem uma opção, não se tem liberdade, porém quando se têm inúmeras opções, o mesmo se dá, pois todas podem tornar-se igualmente válidas.
A coerência veio trazer uma luz, e me descreveu a necessidade do Foco. O Discernimento foi uma vicinal.  Ele não traz Paz, mas faz com que se possa perceber diferenças bem sutis entre um caminho e outro.
Logo em seguida a Intuição veio agregar-se. Ela é tão peculiar, pois não se deixa apreender por conceitos; sempre que se tenta aprisioná-la, ela dá logo um salto e faz parecer-se outra, um "não sei o quê" que o conceito também nem sabe. A intuição não tem a ver com saber, mas com o sentir. Ela não é observável, mas da ordem dos que só se podem experimentar.
A lembrança me trouxe à mente os contextos experimentados. Estes contextos eram feitos de pessoas e lugares. 
Passei a pensar quais pessoas poderia seguir e quais lugares gostaria de estar.
Acho que foi ali, bem nesse ponto que comecei a dar passos seguros num caminho escolhido, e quando me desvio, logo sinto não combinar, então volto. Intuo a falta da Coerência.
Que bom que enquanto há vida, há como voltar. 
Triste é saber, com impotência para ajudar, aos que nem sabem em que caminho estão. Não sabem e nem querem saber, só seguem o fluxo. Onde irão desembocar? Há caminhos que não são nada seguros, só levam à destruição.
Quão enganoso é o coração, pois todo caminho que se escolhe poderia parecer seguro, porém alguns são caminhos de morte, sem que se saiba.
Larga é a porta ... Estreito o caminho.

domingo, 6 de abril de 2014

DECLARAÇÃO DE AMOR

Santo,
eu te desejava sem saber quem era. Não sabia quem eu era nem sabia da Tua Santa Natureza. Mas, te desejava. Sabe por quê? Eu desejava Excelência, Justiça, Pureza, Verdade.
Aaaaaa ... A Verdade sempre me atraiu, pra tão pertinho, sussurrando em meu ouvido, até que eu chegasse pra dizer: Estou aqui, Santo.
Tuas Palavras, mesmo sem eu saber exatamente do que se tratava, por serem altas demais pra que eu pudesse entender, me atraiam. Sabia que se encaixava bem em mim. Tuas Palavras são as minhas vestes. Que roupa mais linda, brocada de Amor! Não poderia ter pensado numa mais deslumbrante, Santo.
Santo, Te amo tanto. Tinha medo de te perder, e os que eram figura tua pra mim, ainda que distorcida, denunciavam esse medo. 
Perdão, por fitar a figura distraindo-me do Que a fez. Santo, sei que ali estava, com teus olhos cheios de luz, com o coração aberto pra me acolher e cear comigo.
Hoje estou no gozo do meu Senhor. 
Santo, Te reconheço, reconheço Tua Voz. Chama pelo meu nome todas as vezes que me distrair e não estiver olhando pra Ti. Quero me concentrar em Ti, não quero me distrair.
Santo, que só há Um, que é o que se fez Homem, e é o único em mim, o Verbo feito carne, sou Tua morada. Há tempos colocou os alicerces desta morada feita com preço de dor, levantando os muros e adornando a casa. Tua habitação é o coração dos teus, dos que chamam pelo Teu Nome.
Santo, eu sou tua. Menti quando disse ser de outro. Menti também pra mim. Nunca fui de outro, tão somente tua. Porque fui feita pra Ti, minha existência é te adorar. Eu te adoro! Te adoro!
Santo, sou fruto Teu, o Senhor quem me cultivou. Obrigada pelo modo com que fui cultivada. Obrigada pelos frutos que posso produzir. Assim o Senhor me fez, para dar frutos, bons frutos.
Faz sempre, para sempre, em mim Tua morada, e fica aqui, no tudo e nas partes, em todas elas, se é que há partes. Só sei que minha natureza é ser incompleta sem Ti. 
Impregna em mim a Tua bendita substância, funde-me em Ti. 
Sou tua, Santo e o Senhor é o meu Deus, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. 
Bendito e Santo! Só o Senhor é Santo!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O PRAZER EM DAR FAZ ABRIR O SISTEMA

Há algumas disposições que percebo serem raras nos muitos e encontradas em alguns.
Tenho forte impressão que muitas das relações que envolvem disputa de poder, se não todas, são de um modo que forçam ou tentam degenerar o que não tem o mesmo intuito. 
Sabe do que estou falando?
Posso falar de um caso: O desejo de servir pode ser interpretado como fraqueza, como subserviência rendida. A primeira interjeição poderia vir assim:
- "Serve por não ter outra opção, se não certamente só iria desejar ser servido".
Esta interjeição tira toda a dignidade do servir. Por que não poderia haver o sentir prazer maior em dar a que o prazer de receber? Ambos podem ser prazerosos, mas também poderiam ser sem prazer algum. 
O que me vira o rosto com os dedos nas bochechas para reparar é que pode haver o que só quer dar, e por consequência, ou semeadura, o receber é que passa a lhe vir ao encontro. Não se poderia ocorrer assim? Eu já vi ...
Ao dar, o sistema é aberto. Se somos sistemas feitos de muitos outros sistemas dentro deste maior, que por sua vez faz parte de um maior ainda, que ultrapassa o limite da pele, estar aberto é sua condição de crescimento. No entanto, condição necessária, porém, não suficiente. 
E a força que move, e faz tudo querer se mover? O que poderia mover aquele que deseja servir?
Não contribuir, não servir, não ter função faz com que o valor vá embora, pois se não serve para nada ... De nada poderia valer ... A Natureza não se move assim? O que não serve de nada, não precisa existir. 
A questão é que nem sempre sabemos para que serve, e mesmo assim poderia servir, sem que pudéssemos ver. O ver "para que serve" precisa vir acompanhado de um olhar bem amplo para ser achado.
Parece que entre as coisas que se deve aprender, uma das mais excelentes é o aprender a ver.
Será que intuir é um modo de ver mais amplo?
Tenho percebido que a intuição é rápida, muito útil em tempos em que as coisas têm de ser resolvidas no agora. Mas, como se ensina 'intuir'? Imagino o enunciado: "Nesta questão, intua que ... " Como poderia ser assim?
Que o que possa intuir sirva ao que me dá ouvidos, e para que funcione o olhar, ele tem de estar retificado. Para retificar o olhar, só curando o coração.
Olhe pra si e veja se algo dói. Se doer, a qualquer lembrança que venha à tona, a cicatriz não se formou, a pele não cresceu e a ferida está exposta. O que se segue é que a intuição não há de funcionar corretamente, mas de um jeito contaminado, com o prurido da ferida.
A dor prende no agora, lembra? E se aquele agora, que já passou, se sente hoje, o tecido está rompido e o sangue se escoa. E quem não sabe que o sangue é a vida. Claro que se sabe. 
O que está prezo no agora do passado fica incapacitado de ver amplo. Creio que não consegue nem ver, só lembra da dor que sente, o que é compreensível. Sendo assim, o importante, o foco se fixa no "não querer sentir dor", e não no "querer ver longe e amplo".
Então, antes de ensinar a intuir, importa saber ajudar a curar. Ajudar já é servir.
No entanto, ainda que se sirva, a cura só vem para o que quer ser curado, ou para o que crê que pode ser curado. Disso estou certa.
Mas, como querer ser curado, quando nem sequer se sabe se está ferido? 
Tenho uma suspeita:
A presença da dor é o que avisa. Não? ...

terça-feira, 11 de março de 2014

AS GENTILEZAS TORNAM A VIDA MAIS AGRADÁVEL

Aaaaaa ... as gentilezas ... ai, ai ...
Um poeta e profeta andou pelo Rio falando pelas ruas dessa cidade que gentileza gera gentileza. Por vezes aborta, mas na maioria das vezes gera sim.
A gentileza só não pode ser bem vinda quando a desconfiança se torna necessária.
Melhor ainda se o que for gentil o for só por ser, sem querer nada além de doar-se, sem querer impressionar, nem mesmo seduzir ou controlar.
Gentil, há pessoas que nascem recebendo esse nome e outras que poderiam ser rebatizadas. 
Houve um tempo em que o nome estava intimamente conectado à identidade. Os gregos clássicos identificavam o nome à cidade de origem, foi o caso de Zenão de Sítio e o de Eléia, as cidades diziam que não eram o mesmo. Em outro dizer, se sabia quem era, ao se saber onde nasceu. Ainda que se repetissem, os lugares não eram os mesmos. Mas, parece que nesse tempo não se deslocavam muito, só os aventureiros, destemidos, como Ulisses, pois era difícil, lugares inóspitos, nem tinham hotéis, tampouco pousadas ou restaurantes. Tenho a impressão que deveriam ter anseio por fixar-se também. 
Desejo muitas vezes um ponto fixo, para que a alavanca que me move encontre seu apoio. O tenho sim, dentro de mim e não fora, num lugar que nem lugar é, pois não tem limites. Como sentir segurança sem os limites? Como ouvi outro dia alguém dizer que uma criança lhe perguntou: "Será que espaço tem chão?"
Talvez o nome deveria ser dado na morte e não ao nascer, pois só assim se pode saber quem de fato se pôde ser. Mas, como chamar, de modo que esse saiba, ao que está vivo por aqui? Também receber o nome antes de ter vivido o tempo de estar vivo soa como uma profecia.
Os que me deram um nome me deram boa herança, pois está cheio de bom agouro, uma bela profecia.
Quanto ao nome, não posso agradecer aos que o elogiam, pois não tenho mérito algum, mas ser gentil escolho por todo tempo que me dou conta desta liberdade.
Receber gentilezas é bom, mas aquela que já citei, a mais fortuita e espontânea é precioso presente, e sem dúvida, torna a vida mais agradável.

domingo, 2 de março de 2014

O BOM OLHADO

Quando a vida está presente, o natural dos olhos só pode ser o brilho, assim como as superfícies bem polidas.
Os olhos curiosos parecem com os bebês que levam tudo à boca, parecem querer trazer pra dentro de si os muitos estímulos. 
Tanto beleza como feiuras podem entrar no olhar, e também torná-lo cativo. 
Se a superfície fica opaca, sem translucidez, basta limpar os vidros. E como saber quando estão sujos? Só se o dono do olhar reparar os vidros e não deixar as cortinas fechadas.
Olhos baços, com arranhaduras e sem translucidez, com fissuras e trincados se turvam, as imagens se distorcem e as vistas já não veem mais, não o que se está à frente, mas só borrões.
Os que só olham num mesmo ponto comprometem a musculatura e as dobradiças, desembocam na perda da mobilidade do que se pode focar. Deve ter o pescoço duro aquele que foca sempre num mesmo ponto, como os homens da alegoria de Platão. Pobres, esses nem poderiam movê-lo, pois estavam presos por correntes, nem deviam saber viver sem elas.
Aprisionar os olhos com correntes é demasiado cruel; são muito delicados para algo tão duro, qualquer ponta que o possa tocar e ele se desvanece, sem que possa se juntar mais. 
Sansão, depois de ter os cabelos cortados, lhe furaram os olhos. Perdeu bem mais que a força. Creio que a força que tinha protegia seu olhar.
Somos seres de liberdade, de movimento, que quando o pescoço não gira, o corpo se torce para posicionar os olhos. O corpo todo gira; e se preciso for, para buscar o que se quer ver, gira ao redor do mundo também. 
"Da-me um ponto de apoio e moverei o mundo"! ... Pois digo: Mova o olhar e o mundo todo se altera; com um bom olhar novos mundos se abrem.
Olhar arejado abre janelas novas para a alma de muitos. Traz luz pra dentro de si e ilumina também a do outro e não deixa mofar.
Almas são casas que por vezes não se sabe quem habita. Aí tem de tirar o pó, desembaçar os vidros e olhar nos olhos pra ver quem está ali. 
Gosto dos azuis, por parecerem mar. O mar é uma imensidão que convida a que avancemos.
Há tantas outras gamas de cores dos olhos, bem maiores do que nossa paleta de cores de olhos nos pode mostrar. 
Olhos rosa, por exemplo, são perfumados, exalam um aroma agradável, que acalenta. 
Olhos amarelos lembram o nascer do sol. 
Olhos vermelhos são intensos. 
"A quem esses olhos vermelhos?" Por que pintá-los assim?
Lágrimas irrigam e podem devolver o brilho, chamam o sangue pra circular ali. Quando muito intensas ficam como minas d'agua, e podem minar até que se sequem. Há fontes que parecem nunca findar, mas as coisas debaixo do sol secam quando ele brilha sem parar. Aaaa se não fossem as nuvens ...
Me interessa saber qual a origem da água que vem molhar os olhos, gosto de buscar saber qual a fonte primeira dessa corrente.
Bem aventurados os que não têm suas fontes obstruídas, pois "os que choram serão consolados."
Molhar os olhos com águas limpas tira a sujeira dos vidros das janelas e faz ver melhor o que esteja fora, para além do que há debaixo do Sol, quando se pode olhar pra ele, sem que se tenha de fechar os olhos se pode ver seu centro, seu interior.
Que os bons olhos me mirem e venham conversar comigo, vou ouvir e claro que gostarei de aprender sua língua.
O bom olhado ilumina, e, como lanterna, faz enxergar o caminho, a verdade e a vida.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A HONRA FAZ RECONHECER O VALOR

A quem de direito, que seja dada Honra.
Ser atribuída honra traz aos olhos o valor, confirma no interior a sensação de pertencimento: "Você é bem vindo".
Seu contrário, a Rejeição, gera uma repulsa violenta. Quem desejaria experimentar? Este é um dos maiores e mais intensos temores.
Rejeitar é ter negado o lugar. Enquanto que a honra entroniza e estabelece num espaço. 
O desconforto é gerado quando o que é honrado não deveria ser.
O lugar em que se escolhe estar está intimamente ligado ao que se escolhe ser. 
Não diz o ditado repetidas vezes: "Diga-me com quem tu andas e te direi quem tu és". 
Poderíamos pensar em um outro alerta: "Diga-me para onde irás e te direi se irei contigo".
Ser peregrino necessariamente está entrelaçado a ter um caminho. Por qual caminho devo andar? 
Parece tanto com: Como devo agir?
Vou agir como este ou aquele? Pelo caminho estreito ou larga estrada? 
Engatinhando ou a passos largos? Isso depende da confiança, da certeza de se estar no caminho que se escolheu.
O engano desvia.
Caminhar e Ser se entrelaçam num pleonasmo.
Com quem devo andar? Será mesmo que somos irremediavelmente sós, ou o caminho já foi trilhado, e os que trilharam acompanham o trajeto dos que passam no agora?
O tempo limita a perspectiva.
Aos que seguem ao Bom, ao que se deve Honra, a este sim, sempre meu sim, pois o quero seguir até que o alcance.
A quem honra, Honra! A quem louvor, Louvor!
O caminho trilhado por Um se abre aos que vieram depois, e foram agregados ao que encerra todas as coisas em Si.
O caminho está aberto, a luz acesa, dá pra ver os pés, e ver onde se pisa. O piso é sólido. Então, por que temer? 
Meu desejo é que o que fez toda a trilha afugente o medo e atraia para si o que lhe pertence. 
A Este Honra! 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A DESCONFIANÇA FAZ DISTORCER O OLHAR

A desconfiança condiciona o olhar, formata conceitos, e esses se instalam, programam as crenças e o agir, inclusive do outro, do que atua próximo, e por muitas vezes esse outro acaba por reagir como se esperava.
Para esse que padece de grave desconfia: ' O que era foi, e o que há de vir também já foi'. 
Nestas condições seria compreensível (não justificável) a rebeldia, o agir violento de quem julga que as pessoas são todas iguais, e espera delas contraditoriamente o que deseja que fosse e o que já formou na imaginação recorrente do que julga ser justo que seja. Deve pensar: "Será que ninguém está vendo? Não vão fazer nada?!"
Como sair dessa prisão solitária se não pela violência? 
Por certo, o ignorar faz perecer, ajuda a enterrar o que está preso em um padrão. 
Como não se revoltar ou se entediar em um mundo do 'já vi isso antes' ou do 'já sabia que seria assim'?
Digo com voz de autoridade, como testemunha de quem viu que é assim: Não! Elas, as pessoas, histórias e circunstâncias não são iguais. Há muito de comum, mas não se repetem. 
Melhor é ter boa vontade para aprender a ver e observar as sutilezas, aí se pode sentir prazer ao perceber que cada um tem em si o seu cada qual, e achar seu sentido, potencializar os passos a seguir, também deixar ser o que quiser ser. Penso que a Liberdade seja assim.
Um passo a cada vez, cada dia uma caminhada, sem sucumbir à tentação de buscar prever o que há de vir. Só o Deus sabe fazer isso, pois não se corrompe, está em todo lugar sem se dividir. Sei que só Ele pode ser Bom, pois sabe tudo, é inviolável e é todo Amor e Justiça. Traz consigo a Vida. Quanto a mim, só sei em parte, e uma bem pequena parte.
O medo impulsiona o desejo ansioso de buscar o devir no agora, em gerar expectativas contraditórias, que servem no mínimo a dois senhores. Assim a fragmentação torna-se inevitável. Um exemplo de quando isso acontece se vê nos pedaços de pessoas que se procura para montar um ser feito na ideia, na imaginação ele ganha um falso corpo. As coisas presas na imaginação não são autônomas, não podem deliberar, nem têm liberdade para agir. Acha que o Tédio não ouviria esses gritos e viria correndo se instalar? Claro que sim! Casa limpa, bem arrumada e morada gratuita ... Por que não se instalaria? Não há surpresa. 
Busco reter o que é bom e desviar os passos do que não edifica. Uma das coisas que não edificam é a imaginação contaminada, só faz perder, a identidade inclusive e o relacionamento com a Verdade também.
Sigamos e façamos questionamentos. Para tanto recorremos à Humildade, pois se comporta de jeito simples, sem complicações. Ela procura não criar expectativas, faz reconhecer a própria condição do humano, os próprios limites, que são estreitos e variados. O prisma da Humildade faz ver com amor, com compaixão, e deixa ser o que se é.
Claro que nossa condição é de necessidade, por que negá-la se a natureza nos deu essa porção? Por que não celebrar? 
Minha felicidade é que há quem me cuide. Os vínculos, se bem tecidos, com fonte saudável, só podem ser bons. Na necessidade os vínculos se estreitam.
Os orgulhosos não costumam se misturar, talvez por receio de não discernir para quem devem pedir, o que também é compreensível, faz sentido, não se pode pedir a qualquer um, não seria prudente.
Pensando assim, a intuição é condição de sobrevivência. Por que não chamá-la de discernimento? Discernir uma coisa de outra coisa ajuda a achar o que se busca, sem ter de ir até os extremos para tatear os limites.
O mais difícil é saber o que se quer.
Ao escolher quero a Verdade. Ela me parece dura, sólida, inviolável, não se deixa chantagear, nem abater. Compartilho de que a Verdade não é particular, não se dobra aos interesses de uns. Talvez por isso o que tem o juízo contaminado pelo egoísmo não queira conhecê-la, pois não irá se compadecer. Quem sabe o que é tentado pelo egoísmo prefira só olhar por dentro de si as mesmas coisas que se pode ter controle, sem que  primeiro queira ou depois possa sair. Mas, o preço do controle é não se deixar levar e nem permitir que nenhum entre. Deixar entrar poderia fazer ruir o que a imaginação demorou a construir.
"Eis que estou à porta e bato ..."
Eu escolho a Benção e escolho quantas vezes for a Vida! Ainda que sem merecê-la. Foi-me dada de graça, então a recebi! Se tivesse de me esforçar, não teria força. Como não me tornar grata? Também recebi perdão e por isso o dei. Assim que comecei a me sentir segura, passei a entregar à Verdade o que havia construído na imaginação, para que fizesse conforme seu querer. 
Se a Pedra Angular é inviolável é impossível que o que há de ser construído a partir dela vá ao chão. Só se pode destruir o que pode ser fragmentado. Consequentemente, o que é violado não possui existência em si. Então confiei Naquele que É.
Experimentei ser melhor viver a que ouvir falar. Tornei-me testemunha, por que vi e ouvi. Desejei isso tudo, ardentemente desejei.
Para nós que vivemos debaixo do sol, buscar estar em dois lugares ao mesmo tempo não me parece boa escolha, pois fragmenta, divide o que deveria ser íntegro, inteiro. Insisto que não deveria desejar se dividir, para não morrer. Por que escolher a morte?
Novamente o mesmo vale para quem está a se guiar pelo que se propôs a prometer ao próximo. As promessas podem ser feitas aos baldes, porém quando não cumpridas são motivo de que se abram chagas, em quem promete e no que espera, gerando desconfiança, que por sua vez faz distorcer o olhar, rompe.
Quando a desconfiança se espalha, contamina a imaginação, ainda que se escolha ver bem, não se consegue enxergar, nem receber, a contaminação se alastra e tudo o mais que estiver por perto pode adoecer. 
Vestindo a Verdade e reconhecendo a condição de fraqueza, convém se despir do que a imaginação construiu e explicar: "Nem tudo que desejava e pensava poder cumprir o pude fazer. Lamento."
Maleável que só, a imaginação não é boa nem má, só se deixa levar por qualquer sopro ou brisa, se divide em muitas, e se se deixar vai para longe, em que as partes podem não mais voltar. Se assim for, fragmenta-se em tantas partes e para muitos lados até que se espalha, e, o que a detinha cede, passa a negociar o inegociável e se corrompe. Cabe a cada qual dominá-la, cuidar que se mantenha limpa, saudável. O amor é o que motiva a cuidar.
Penso que imaginar seja construir formas, estruturas, mundos, prefigurar, prever, profetizar. Os que exercitam esse espaço com destreza voam bem alto. 
Os riscos de queda aparecem com o desamor. Sem cuidados, as feridas condicionam as imagens formadas. Elas têm poder para forçar a lembrar da dor. 
A dor avisa o que está por se perder. Quem quer ver seus pedaços espalhados por aí? A corrupção em sua gênese não é isso, o espalhamento e o dividir-se em muitas partes? Este é o caminho para a contradição. Como somos seres de movimento, se deixar prender por um sem sentido da contradição só faria colapsar.
Alguém que me foi próximo disse uma vez, e eu bem de pressa me apercebi que seria este o ponto de partida. Creio ter sido dito mais ou menos assim:
"Há casos em que só o perdão pode juntar, em que só o perdoar fará seguir em frente, juntar as partes e fazer viver".
Sei para mim que quando o imaginar dói, eis o alerta, a ferida sangra e a vida se escoa.
Não tenho dúvida de que o pedir perdão, assim como o perdoar é que faz cicatrizar. E 'as cicatrizes são remédio para o mal, pois curam o mais profundo das feridas'. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

ESTÉTICA

A palavra "Estética" é fluente na boca e nos ouvidos. Todos parecem saber do que se trata, mas confesso que eu não estou segura assim, ao menos não como os demais que parecem saber.
Faz algum tempo que ocupo-me em entender o que significa, não só a palavra, mas de onde veio, para que serve e quem a fez.
Essa proparoxítona já me tirou o sono por muitas vezes, mas não de um jeito ruim, foi proveitoso.
Por onde procurei, o que de mais próximo achei junto à Estética foi a Forma, esta é sua pedra de toque. Ainda agora pensei: Será que existe algo que não tenha forma?
Se existe forma a Estética está para nos ensinar a entendê-la, ou senti-la. Sentir talvez seja o verbo mais adequado. Quero deixar claro que entendo que sentir não exclui o pensar, o amplifica.
Quando penso, ou quando sinto, os dois faço em algum lugar. Nem sempre esse lugar a que me refiro só diz respeito às dimensões que estamos habituados a perceber, existem muitas mais. Perceber essas outras, quer entendendo ou sentindo, é que faz exercitar o espírito, fugir do hábito e tornar-se arguto, capaz de discernir as formas e frequências mais sutis. Saber separar o que é pouco visto é importante para saber de quem vem. Se souber de quem, dará para saber de onde.
Por isso importa saber a fonte, pois é ela quem lida com a estrutura da forma, que faz ordenar o que aparece. Da fonte que vem o poder de criar.
Será que penso como escrevo? Aos soluços, com saltos abruptos, deixando espaços sem preencher?
Sei que sonho como penso, e sempre sonho com moradas, quase sempre. 
Já ouvi um esteta e também um psicanalista dizerem que quem sonha com casas, na verdade sonha consigo. Então deve fazer algum sentido. Pois, estou a me ocupar com a Estética, que me soa quase como sinônimo de percepção da forma, porém não só de espaços cavados ou construídos, mas falo de espaços pensados e sentidos. 
Moradas são espaços significativos, e quando se fala do ser tanto mais. 
Saber de Estética é buscar saber como que o espaço se ordena, mas não um espaço só, mas os muitos que se entrelaçam e que compõem o todo.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

DEIXAR ...

Hora de deixar. 
O medo de perder parece ser tão comum, tão frequente, poderia dizer até constante. Ninguém parece querer perder nada. Ganhar sim, perder, se possível, nunca.
Em geral, parece que se deixa ir o que não tem valor, mas o que tem fica!
Talvez as almas de grande estatura não pensem assim, e também não ajam desse modo.
Não reter é deixar ir. Não reter é também saber dar. Saber dar está implicado em dar-se, quer seja por inteiro ou aos bocados.
Ainda que uma lasquinha, o que deixa ir, dá de si, rasga seu limite.
Não deixar ir até que não possa mais segurar só adia o sofrimento, a angústia também e intensifica a ansiedade. 
O que há de muito profundo a se fazer, ou aprender a fazer, e principalmente querer que seja assim, é não querer reter.
A ilusão de reter, ou reter por um tempo, exige força que vai de encontro ao fluxo da vida. A vida sempre transborda, não é possível retê-la, detê-la tão pouco. Ela se impõe.
A excelência está no respeito ao não servir de obstáculo, nem de empecilho para que a vida siga seu curso. 
Quando falo de Vida, falo da que de fato é, e não da que só parece ser, que se disfarça de luz, mas não a sustenta, bem pelo contrário, negligencia e festeja o fim.
O contínuo não tem um fim, é fluxo e fluxo está sempre indo.
Abro minhas mãos e deixo ir. Não digo que não doa, dói, sinto as partes se despregando e indo embora. Claro que peço pra voltarem, e nem sempre voltam, ao menos não no tempo que gostaria que voltassem. No entanto, a Vida tem tanta força que regenera, e tudo acaba por se reconstituir, pra isso precisa mesmo de tempo.
Quando a parte parte, deixa de registro o bom. Pois na Vida há tanto do que há de bom, só o que há de bom ela tem. 
A dor é um sinal de que o que dói está vivo, e quer continuar a viver.
O que é chamada vulgarmente de vida por aí, aquela que aparece em qualquer esquina, essa é uma sombra, que ninguém sabe direito nem quem é. Ainda está por vir a ser, num devir, por vezes, acompanhado de esperança. Ainda bem que enquanto tem tempo, há esperança de que o que é de fato Vida venha a se revelar.
Ilusão, você não me seduz! Gosto do que é de verdade, e a Verdade é viva! Eu sei ...

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A SOMA DOS MUITOS 'UM'

Dizer que ninguém tem nada a ver com o que cada qual faz, deveria ser considerada uma frase sem sentido. 
Acaso poderia haver alguém por completo desconexo? Que não se ligue a nada nem a ninguém? Não ... Não creio ser possível.
O nascer de alguém já nos faz pensar que temos origem, e que viemos de um lugar que também teve sua origem, e assim viajar, sem ser no tempo, por milhares de anos, se se quiser, buscando onde tudo começou. Tantos já fizeram assim. 
Também poderia procurar ainda mais atrás, em Um acima de muitos outros.
Origem tem poder para conectar, lança suas marcas para bem longe de si. Pode também se revelar e fazer lembrar que a volta é possível, se se foi pra muito longe. Aonde tem vida há esperança, afinal é ela, a vida, que faz mover, seja para a direção que for.
Só para fazer um comentário do que não é o assunto, a mim me parece que a indiferença é um ressentimento do que rejeita sua origem, ou o que julga ser rejeitado por ela. Deve fazer virar estátua de sal. 
Lembro que o sal não deixa nascer, quando jogado na terra nada mais cresce; nem deixa respirar aos que respiram pela pele, morrem. O sal desidrata, e sabemos o que acontece com os lugares que não têm água, a vida não se manifesta. Como pode o sal fora de lugar mudar tanto o que está consigo, pois no mar ambos, sal e água, convivem com boa amizade, cheios de vida, mas ao se separarem e ocupar um lugar que não é de origem, vivem a concorrer, onde um está o outro se ressente e some.
Que tolice julgar que nosso ponto de partida é a origem de um curso todo. Há tanto de mais antigo que nós, e que ainda vive. Sei que há os que sabem disso, conheço alguns, que me ajudaram a ver, inclusive.
Pensar sobre isso ajuda a livrar da arrogância e do egoísmo, que nada mais são que uma condição de pequeno espaço, a ilusão de achar ser um único Um. Os que estão presos nesse pequeno espaço não conseguem nem mover-se, e assim como conseguir ir além e buscar os outros que também são Um, porém, Um de muitos. Esses deveriam sempre pedir ajuda, até que saiam daí, pois não vão tornar-se um único, vão é permanecer atados pelo engano, que por sua vez persevera em iludir. 
Nesse espaço bem pequeno, chamado Eu, não cabe muito. Claro que no Nós cabe muito mais, principalmente se esse for conjugado através do verbo Dar. Aí, o espaço tem de aumentar, para caber tudo que é dado. Então, os braços se esticam, juntamente com as mãos, até puxar outros pra dentro de si e vai ficando tudo ainda maior.
Os de espaço pequeno resistem a serem atraídos. Talvez nem considerem que possa haver espaços bem maiores; alguns escolhem continuar assim, com consciência ressequida, acumulando sobre a própria cabeça brasas de ira. Afinal, quem não se ira com 'Um de espaço pequeno'. Confesso que fico irritada, não gosto que me aperte. Quem me viu por dentro sabe que preciso de espaços amplos e bem arejados.
A ira é um sinal de indignação, e é própria de quem tem força e não se conforma. Só se tem de cuidar pra não ferir ninguém; esse é o grande perigo. Pois, se ferir alguém, encurta o espaço pra si, vai viver acoado. A isto, estamos todos sujeitos, então importa se alongar, esticar, expandir, se esparramar, pensar grande. A fé deve ser a substância que faz os músculos se alongarem. 
"Dai ao que te pedir". Só pode dar o que tem fé que não irá perder, mas que irá aumentar de espaço, alongar os membros, assim o corpo todo. 
E se pedirem minha vida, será que a daria? ... Não sei ... Tem de ter muita fé, muita! "Não há amor maior do que aquele que dá sua vida pelo outro". 
Mas, quanto ao Um, ele é único, sem nenhum outro que o assemelhe. Esse sim é a origem e também o fim. 
O Um que somos não é um único Um, é o um de muitos, em seu contínuo.
Identidade, Idêntico,Identificação ... Quem é idêntico o é de alguém. Pronto!! Há mais de um único Um, e ao reconhecermos identidade, semelhança, já estamos conectados!
Parece loucura negligenciar o que veio antes. Não deveríamos estar correndo atrás desses que souberam viver, que poderiam nos contar o melhor a fazer, e expor o mais amplamente possível quais nossas possibilidades de escolha? 
Ocorreu-me uma ideia, em buscar os judeus. Ouço falar que eles não negligenciam quem veio antes, eles são 'Um' que devem saber, creio que ao menos saberão dar pistas. Muitas vezes me perguntei como conseguiram viver em pátrias diferentes sendo 'Um'. Tantos povos sucumbiram, talvez por não ouvirem os que vieram lá de trás, abandonaram a fé, deixaram de crer nas próprias origens. Ação assim, muitos sabem que é antinatural e altamente destrutiva. 
Minha avó não estudou muito, mas ela sabia tanto! Assim ela dizia: "O que vem de trás, toca pra adiante". Que mulher sábia essa que veio antes de mim! Queria poder ter aprendido mais com ela, porém, não deu tempo. Um dia conto dela. Ela não escreveu de si, mas posso contar o que vi e ouvi.
Nessas horas penso: "Que bom que livros existem"!  
Há os que não falam a mesma língua.
A língua! A língua em que nasci é bela, porém inculta, nem os que nasceram nela a entendem e respeitam muito bem. Confesso que não queria cometer deslize algum, por uma questão de respeito. Mas, como aos demais, os de junto de mim também estou conectada estou sujeita as mesmas violações. Porém, talvez haja uma diferença de grau.
Pena, poderíamos ser 'um' a falar a mesma língua na mesma temperatura, sem nenhum grau a mais ou a menos. Mas, raramente é assim. Pois, mesmo que se fale o idioma, pode-se não falar a mesma língua. Já sentiu?
De qualquer modo, falarmos a mesma língua nos conecta, e nos faz sermos identificados por outros, os de fora dela principalmente, como se apontasse nosso lugar de origem. 
Já li uma vez que a ilusão da solidão não é a de não ter ninguém por perto, mas a sensação de não ser compreendido.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O CORAÇÃO É TAMBÉM UM ÓRGÃO PERCEPTÍVEL

"Deja que un hombre beba en esos pensamientos que le vienen al contemplar el universo psico-físico sin ningún propósito especial; especialmente el universo de la mente que coincide con el universo de la materia. La idea de que hay un Dios por encima de todo eso por supuesto surgirá a menudo; y cuanto más la considere, más le envolverá el Amor por esa idea. Se preguntará a sí mismo si de verdad hay un Dios o no. Si permite hablar a su instinto y busca en su propio corazón, encontrará al final que no puede evitar creer en él". (C. S. Peirce, CP 6.501)

Insisto tanto em falar em 'lugar' que sei que me repito. Devo pedir desculpas? 
Em primeira pessoa, creio que somos seres de estado.
O Ser que É se revela ao que lhe percebe com mente desperta e coração sincero, tem poder para levar para o lugar de entendimento, de revelação. De fato, um coração sincero quem haveria de desprezar? Só os tolos o fariam.
Enquanto nós estamos, e para estarmos há de ser em algum lugar, o lugar é quem diz do estado.
Quais os lugares em que já esteve? Pergunta sincera de quem quer saber. Gostaria de poder ouvir.
Confesso que desejo estar aonde minha voz alcança. Ver quem me lê, pois me mostrei de dentro.
No revelar há intimidade, pois falamos de lugares, como o lugar onde não se cresce, o lugar onde se pode ver, e ainda o lugar do sempre igual.
Há muitos ainda, os que já andei e os que nem se quer vivi; há tanto bons como ruins, os neutros é que não existem. Ou há de ser bom e se pode ser livre ou mal e se há de prender.
Maniqueísmo?! Não, não ... Não existem dois lugares tão somente. Há diversos. O que penso haver de dois são as escolhas: sim ou não. O 'Talvez' é só a suspensão do juízo, um adiar até que se possa decidir.
O universo da mente e o universo da matéria parecem vir em dois, mas pode ser que nos apareçam assim, porém a fonte é uma só, é a mesma que traz a existência tanto um quanto o outro.
Pois não é razoável pensar onde começa o mundo? Claro que em um primeiro. Assim o pensou Peirce, o homem de letras e números, ele percebeu. Penso que ele não percebeu só com a mente, mas também com o coração, por dizer ser este um órgão perceptivo. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A BUSCA DO LUGAR QUE SE TEM PARA SI

A verdade é tão sublime!
Lembro-me de desejar, e ainda é assim, uma verdade dura a que uma mentira aconchegante. A verdade me atrai, lança seu olhar de luz e me traz a si, move-me a buscá-la e mexe minha vontade de modo a querer morar consigo. 
Difícil não é saber o quanto ela vale, mas quem ela é, onde, com quem está. Há muitos os que se fazem passar por ela. Seduzem e não sustentam as promessas que fazem, aí que se descobre o disfarce.
O discernimento ajuda a ver, já para evitar o engano e a mentira, que são os que se fazem passar pela verdade. No entanto, não nascemos discernindo, bem pelo contrário. Os que estudam o desenvolvimento cognitivo de seres humanos dizem ser assim, que as crianças aprendem no tempo a separar uma coisa de outra coisa.
O senhor Charles Peirce, homem de muitas letras e números, disse ser o 'erro' que nos faz ter consciência de que há um outro, e que esse outro não é o eu. 
E, assim é, separando uma coisa de outra coisa, aprendendo a reparar nas diferenças, cada vez mais sutis, mais escondidas, até que se possa perceber que um detalhe traz à existência um novo 'outro'.
Aprender a discernir e passar a vida a exercer essa atividade é prazeroso, pois nascemos para ser assim. Penso que o que vem ao encontro de nossa natureza, prazeroso já é. Só não sei se o que vem 'de' encontro se torna um desprazer. Pode até causar uma sensação de desprazer, mas seu fruto poderia ser proveitoso. Intuindo ainda, o conflito e o confronto têm grande valia, podem nos deslocar do lugar que não nos pertence, e ajustar-nos a ir ao que devemos ser.

Antes que alguém questione, sim! Escolhi crer que há um lugar para cada qual, o mais adequado, o "melhor dos lugares possíveis". A busca é semelhante a da verdade, basta saber qual é, e em qual tempo. Pois o tempo potencializa a diversidade de lugares. 
O tempo e suas múltiplas facetas! 
Em algum momento cheguei a me ressentir com o tempo, julgando que é de seu feitio tirar. Hoje não penso mais assim, o que o tempo faz é dar!
Já me deparei com seres de verdade e também com seres da Verdade. São encantadores, sérios, intensos, fortes. Ambos são assim, se parecem. Os primeiros vivem entre nós, salgando o mundo e trazendo sabor, revelando e fazendo ser mais intenso o encantamento da vida.

domingo, 12 de janeiro de 2014

O VÍCIO DE SE DEIXAR GUIAR POR UM PADRÃO

Observando com demora reparei que é uma ilusão pensar que haja algo que não possa ser lido, que fique escondido ou que não se possa ver. Que bom que é assim! Há muito a que ser visto! 
O que parece ocorrer em maioria é não saber, ou não querer ler. Bem que se disse: Conhecimento e interesse andam juntos, um não vive sem o outro. 
Sei que muitos são os leitores que não têm interesse em ler, muitos não gostam, nem têm vontade. Há os que não sabem, e nem se esforçam por saber. Tem também os que tropeçam no engano e se acomodam; e os que simplificam, julgando otimizar a leitura, nocivamente configuram um padrão. 
Os modos condicionados das 'leituras dinâmicas' adestram o olhar para uma percepção estreita, prendendo num lugar de repetições. Já falei muitas vezes que nesse lugar não quero ir, nem tampouco ficar, só de imaginar me causa arrepios e aversão.
Há os que veem com os olhos dos outros, repetem o vivido de alguém. Ilusão de possuir. Estes restringem a própria liberdade.
De modo semelhante fazem assim os que prenderam pessoas dentro de si, ou ataram-se a elas de tal jeito, com correntes pesadas, que todas as outras que passam ou ficam em sua vida são percebidas por um mesmo olhar. O interesse fica algemado ao desejo de perpetuar a identidade do que o rejeitou. Ler alguém a partir de quem já se foi força o outro a ser quem não é, cria simulacro. Esse olhar tira o valor, pois desmaterializa o que está no agora, rouba-lhe a liberdade do vir a ser o que se é, em nome do culto ao que já não está mais ali, forja a forma do que veio antes no que anseia por saber quem é. 
Para se saber quem é o olhar do outro não é suficiente. Conforme o olhar pode condicionar no engano, pois todos têm suas lembranças, e há os que não se desfazem dos sentimentos que elas trazem consigo. Aproveitar sentimentos gerados para 'Um', reciclado-os para direcioná-los a outro 'Um', só pode produzir ressentimento.
Infelizmente, muitos dos que estão expostos a esse tipo de vista persuasiva e insistente se perdem de si. Por certo é um caminho de morte.
Lembrei também do míope, precisa da lente de vidro e a dioptria estabelece seu padrão. A partir desse ponto, com a lente de vidro (que não nasceu no olho) cria dependência, e na falta dela só vê borrões. Não consegue ver per si. Lentes de vidro são frágeis, e por estar fora do corpo ficam ainda mais expostas e suscetíveis a serem esquecidas. Lentes de vidro não tem pálpebras.
Lamento pelos que não sabem que pessoas não se repetem. Pessoa se pode ler, ler muito, ler mais e ainda ler, e as páginas não se findam, não se esgotam. 
Hoje penso que ler pessoas pode ser inefavelmente mais rico a que ler livros. Nas pessoas não se pode voltar as páginas. Nas pessoas nem sempre há sequência, as páginas podem vir com saltos. Como são dinâmicas!
A pouco não pensava assim, provavelmente porque os livros são cheios de ordem e coerência, além do mais não resmungam, não criticam, tampouco são violentos. Seu comportamento já é o esperado, sem surpresas se sabe como irão se mostrar: maleáveis, se deixam abrir, permitem que os manipule, não se magoam se forem postos de lado, podem ser lidos quando surgir a vontade.
Dei-me conta de que já gostava dos livros que contam sobre pessoas, com esses que mais me detinha, conversando sem pressa, conversas demoradas, longas e cheias de vigor, com sotaques variados.
Nesse tempo, que pensava que livros fossem melhores companhias a que pessoas, achava equivocadamente que o projeto do Ser Humano não havia dado certo, parecia, no meu olhar míope, uma aporia desvalida. Esse tempo foi de não querer saber ler se não pelas letras.
Ao despertar uma boa vontade, passei a buscar um outro caminho, que desembocava na percepção da intuição, um outro tipo de alfabeto. Esse fez alongar a vista para além das letras, trazendo entendimento. O entendimento não justifica, mas faz saber um porquê. Volta o olhar para a causa e faz nascer e crescer a compaixão. Ajuda a achar os pares.
Lembrei-me do que um dos alemães que gastam a vida a pensar, e que pensam por muitos, escreveu sobre um algo que ele chamou de "não sei quê".

"Essas pequenas percepções, devido às suas consequências, são por conseguinte mais eficazes do que se pensa. São elas que formam esse não sei quê, esses gostos, essas imagens das qualidades dos sentidos, claras no conjunto, porém confusas nas suas partes individuais, essas impressões que os corpos circunstantes produzem em nós, que envolvem o infinito, esta ligação que cada ser possui com todo o resto do universo."