domingo, 20 de dezembro de 2015

A LÓGICA DA ALTERIDADE

Desde Aristóteles os tijolos de construção para a lógica foram os princípios de Identidade, Não-contradição e o Terceiro excluído. 
Sabemos que pode haver o indeterminado, a dialética aponta para a contradição intrínseca das coisas, e a identidade poderia ser ampliada para a alteridade, ao invés de ser idêntico a si, ser idêntico a outro, em processo, com inserção do tempo.
Ser idêntico a si mesmo não parece ser seguro, tampouco traz unidade, ao menos quando falamos de pessoas.
Unidade é o que garante um sentido, pois, se não houver um sentido, uma ligação de coisas em relação, que significado pode ter? Seria um embaralhado de múltiplos espalhados por aí.
Pergunta retórica: 
De onde vem o comando para que os múltiplos se unam em uma unidade? Pleonasmo ... Eu sei ...
Amor, entrega e confiança têm a ver com unidade.
Interessante que amor tem a ver com sentimento, entrega com ação e confiança com razões. Mas, o maior deles é o amor.
Razão e ação estão contidos no sentimento. 
O órgão perceptivo que serve para sentir é o coração. Por isso está escrito: "Das coisas que se deve guardar, guarde teu coração, pois dele procedem as fontes de vida".
Sentir errado é quando o coração está torto, quebrado, com feridas, esfolado. Assim como não conseguir ver imagens nítidas com olhos em que as lentes não estão no lugar, ou tentar ouvir com bigorna e martelo avariados. Sentir com coração ruim, não dá pra sentir certo, com nitidez. Nestes casos, de avaria, a percepção fica comprometida.
E como guardar o coração? 
Como se pode saber quem está apto a entrar e quem não?
Só sei que tem um que não fere, que dá valor, que toma o coração do que vive como demasiado precioso. Você sabe de quem eu falo? Já o ouviu falar? Ele fala no coração, conhece sua cadência, vibratos e em que clave se modela.
Pois, se sim, identifique-se, é seguro; deixe Ele entrar e fazer morada, pois este é o lugar de Sua morada, o Seu templo, que construiu em três dias. 
A Ele sempre honra, glória e louvor, pois somente Ele é digno do coração dos homens, e sabe como morar ali.
Ele também indica em que se pode confiar, os que a Ele podem ouvir.
"Os meus ouvem a minha voz".

domingo, 29 de novembro de 2015

IDENTIDADE? ... IDÊNTICO A QUEM? ...

Identidade é de natureza axiomática; não por menos é tomada como um dos princípios da lógica, talvez o mais fundamental.
Originariamente "axioma" significa dignidade ou valor. 
Identidade tem mesmo dignidade e valor. 
Digno e com valor; idêntico a quem?
Indentitas, Identity, Identité, Identität, Identità ...Não altera muito.
Identidade como unidade de substância que une. Une? 
Quem são os que se unem ...
Q... Qu ... Que ... Quem ...
Como se pode ser um?
Indivíduo me parece um monismo de categoria fantasiosa, uma invenção. Na identidade no mínimo tem dois.
O indivíduo é o que não se divide? Se é assim, me parece ser mesmo como disse. 
Acredito em um eu bem tênue, que só é eu por um tempo, depois se divide, depois fica contido no tudo. 
O Tudo tem poder para se espalhar e tornar a juntar, tem poder para morrer e tomar sua vida de volta. É tão poderoso que não se faz ver para deixar que o eu seja, sem que saiba que é tão pequeno.
A matéria que me compõe me parece estar disponível em muitos outros eus. A quantidade de cada uma delas é que pode se alterar.
Penso que ao nos identificarmos não o fazemos sem propósito.
Ao me identificar vejo como que por um espelho. 
Explico melhor: Os quais nos identificamos dizem em sua substância o que queremos ser e pra onde queremos ir. Não parece uma boa pista para quem quer encontrar seu caminho?
Nas parábolas sempre se pode estabelecer identidade com os que são configurados na narrativa. 
Assim sei quem sou no agora, de quem sou, a quem pertenço. 
Saber de quem sou é minha identidade.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

NOTA SOBRE A ESTÉTICA DA INTIMIDADE

Por certo que intimidade e afinidade têm parentesco.
A intimidade é para poucos, para os que pensam parecido, pois tem a ver com mostrar de si, e se o que ouve não se interessa, por que haveria de se mostrar?
Parecem espalhados os que têm afinidades. O vento os soprou pra cantos diferentes.
Também temos de considerar que para falar de si tem de se sentir bem confortável, à vontade, relaxado. Em ambiente que cheira à exigência ou crítica como se haveria de relaxar? Melhor tapar as narinas e se aquietar, fazendo da boca não o revelar, mas lugar de respiro.
A capacidade de falar de si tem a ver com a doçura de expressar sem medo o que se sente: se agraciado ou agredido; sem que a culpa seja imposta, sem cobrar, pois, como cobrar o que não sabe nem que deve?
Só se sabe o que se deve quando o alheio chora seu dono ...
Para os que não vestem a culpa, quanto maior a afinidade, maior o poder de conexão, maior o encaixe. E quando o encaixe se ajusta, são poucas, se não só uma, as condições  externas que poderiam determinar seu fim.
Para compor os interesses e afinidades tem de saber de si primeiro, até mesmo pra saber se o outro tem semelhantes interesses, gostos, identidade ... Raro mesmo é quem sabe ser quem é.
Amor é também fruto do que se tornou íntimo, do que se deu por conhecer e se permitiu ver e ser visto. 
Bem se pode perceber, que as pessoas que evitam o amor lidam mal com frustrações, contrariedades, procuram ser amadas mais que amam. Para esses, uma aliança pobre pode ser a solução.
Por que enfrentar o medo da perda de individualidade, o sofrimento de uma dramática ruptura ou medo da felicidade?
Este último, talvez seja o impedimento maior, pois encontra na tragédia seu refúgio, por sentir que a culpa é o destino dos que se sentem felizes. Algo de muito ruim os esperaria no devir, pois que justiça poderia haver em que a felicidade seja constante, se o que conhecem por constante é a dor ou o tédio. Quem poderia mudar este padrão? Teria de crer que os padrões são diversos, e não somente esses. Há o melhor.
Felicidade não se conjuga com euforia. Felicidade nem é verbo para que se possa conjugar; então, nem ação é ... Nem ação é ...
Só sei que quem superou os impedimentos internos não aceita relação de má qualidade. 
Os inteiros gostam de ter ao seu lado um parceiro de viagem, que não fique ancorado no cais do passado, nem seja lançado para o futuro da expectação do que deveria ser desde sempre. O bom mesmo é estar atento à viagem e que sigam em apoio mútuo, admirando o que há no caminho do bom processo.
"Um feito pode relacionar-se com a totalidade de nossas diferentes capacidades, sem ser um objeto definido para qualquer uma delas". Quanta perspicácia do jovem Schelling ... 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

PALAVRAS OCUPAM ESPAÇO?

Não tenho tido palavras nos lábios por este tempo. Elas estão cada dia mais quietinhas, sem nem que o respiro se possa ouvir.
Creio que a sensação é de que tudo que era para ser dito já foi, e o que é, já foi também.
No íntimo, as letras ainda estão a tecer o pensar, porém, de forma embaralhada, ou de maneira cifrada, que não me deixa entender. 
Parece ser um processo em que, mesmo que uma palavra escape, ela não se ancora à outra. Parece estranho que as letras não se comuniquem, nem se deem as mãos; como também não formar frases, não gerar entendimento; devem estar meditando em solidão.
Que estranho estado esse, pois a muito que aprendi que letras matam ou fazem viver; mas sobre as que não se relacionam, essas ainda não conhecia.
E que espaço as palavras, frases, versos, textos, longos escritos ocupam? Se não estiverem nos suportes de papel e nos de luz, para onde vão?
Não é uma pergunta razoável? Para onde será que elas vão quando se calam? Para as montanhas, como os eremitas? Para o mar, como os navegantes? Ou para as estradas, como os andarilhos?

Será que Lavoisier também estava falando sobre elas, as letras e as palavras, ao registrar que nada se cria, também não perde, mas se transforma?
No momento,  o que tenho sentido (o que não faz muito sentido) é que se der umas pancadinhas na cabeça, perto dos ouvidos, sacudindo de um lado para o outro, elas irão cair, tanto as letras como as palavras, sem que haja sentido de onde estavam, tampouco para aonde irão.
Pensando melhor, talvez seja só um tempo de se reordenarem, para que haja uma arquitetônica diferente, mais ampla e consistente. Pode ser isso ... Talvez fossem muitas, que já estavam ficando apertadas, amontoando-se umas às outras, numa ordenação desconfortável.
Quando estiverem em local mais amplo, arejado e aprazível, penso que irão voltar a ser como eram, enfileirando-se umas às outras, em fila indiana e seguindo o caminho que deveriam andar. 
Neste sentido, entendo bem, pois sempre preciso de bastante tempo e muito espaço para me mover. 
Sabe que me identifico com letras e palavras ... Consigo compreender seu modo de ser no mundo, a procurar um ouvido, uma mente para transitar, lábios que as impulsionem ou livros para descansar.
Pensando um pouquinho mais ...
Num saber profundo, se me perguntassem de que sou feita, talvez ainda mais do que carne e sangue, diria: a Palavra me pois de pé, abriu os olhos e me deu A vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

UMA ORDENANÇA: CRESÇA

A vida diz: "Cresça!"
Por que haveria de não obedecer? ...
Sei do que retarda, porém, do que impede de crescer, não quero nem saber.
O que atrasa crescer é ter ruptura, fenda, ferida. A luz escoa, a vida se esvaece. Como há muita vida, o tempo é extenso para que se esgote tudo de uma vez.
Onde está a ferida? Em que parte o tecido se rompeu? Sabe dizer?
Os que dizem nunca pensar sobre isso, morrem sem saber que dormem em jazigos.
Desejo, como em oração, a você que lê, que tua vida seja plena, sem fissuras; e que, se por desventura surgir alguma, logo seja estancado o sangue e se cicatrize o que se rompeu.
"As cicatrizes são remédio contra o mal, e curam o mais fundo das entranhas".
Não há de importar quantas cicatrizes, só mantenha lembrança de onde vieram, e se afaste do que te fez mal. Cresça!
Não critico ao que não consegue crescer, e compreendo essa condição. O que posso dizer, se não lamentar e desejar que enquanto haja vida que a esperança se sustente ...
Que todo ar que se respira seja para crescer.
Se pudesse aconselhar, diria: Não se prenda a você, não tema crescer, não tema ter dor. Sinta dor. Na unidade há crescimento. Não somos só um, somos nos outros.
Sabe quem é seu outro?
Com quem se identifica ajuda a saber.
Como bendição, digo: Cresça! 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O MATERIALISMO OCULTA A SUTILEZA DA REALIDADE

Converso com os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir.
As crianças fazem o que veem seus pais fazerem e falam o que os ouvem falar.
Quando se cresce, muda tudo, o que se vê e a quem se ouve?
A identidade sabe bem. Mas, não vou partilhar sobre isso, não agora.
Curioso foi assistir a uma aula de desenho e perguntar: o que você desenha, onde está? Respostas recorrentes: "Em minha cabeça".
Quantas imagens são guardadas na cabeça, como cabem tantas, e como insistem em serem projetadas pelos olhos. 
Para ver além da aparência, olha-se para o que sai.
Vejo as imagens da mente, poderia ver simultaneamente com essas imagens o que se me apresenta aos olhos no presente?
Imagens da mente parecem ser extemporâneas, pois como saber de que tempo elas são? 
Imagens têm forma de conceitos? 
Confesso que não sei.
Sei que imagens são impactantes, principalmente quando se é criança, e quando são vistas pela primeira vez. 
No entanto, mais impactante ainda é poder enxergar o que já havia sido visto como se fosse uma primeira vez.
Quanto ao ouvir, é uma advertência; o som, assim como com os morcegos, orienta por onde andar. Mas, pensando melhor, morcegos não andam bem, se arrastam quando não estão voando.
Creio que seja isso ...
Ver e ouvir deve ser para voar.

domingo, 24 de maio de 2015

DIA PARA LAMENTO

Já tive dias de lamentar o pecado no mundo sem me preocupar em responsabilizar ninguém, só observar e ficar triste.
Acho que por isso passei a gostar do simples, por ser bem claro, cheio de luz. O simples parece ser o equilíbrio.
Em geral, somos como crianças, na maior parte das vezes não nos damos conta de estarmos em risco.
Nossa condição é mesmo de pobre, por não termos posse alguma; em essência o que temos são necessidades. 
Cegos, pois não conseguimos ver o que está adiante de nós, todos os caminhos que escolhemos parecem nos levar a bons lugares, e grande parte deles são caminhos que desembocam na morte. 
Para seres de necessidade, quase tudo pode morrer: os sonhos, as expectativas, a alma. 
Morte nem sempre tem conotação ruim, é necessário que a morte atue em muitos contextos; o importante é que a vida continue a agir, refazendo tudo novo e de um jeito mais crescido, retificado, alinhado. 
Será que todos sabem que precisamos de vida; ela não é dada toda de uma só vez, mas todos os dias.
Nus, somos também, pois o que temos de roupa é a pele, mas ela não consegue reter os segredos. Tudo o que está encoberto ao ser exposto à luz é obrigado a se revelar. O que existe são maus leitores, os que preferem o soturno, o lusco fusco, o cinza, a madorna, o breu. 
Lamento pelos fotofóbicos.
Mas, não lamento por ser pobre, cega e nua; penso que não seja isso o que se deva lamentar, porém o não querer ter consciência da verdadeira condição, o não querer saber, nem se interessar; deixar-se levar para que o tempo cure, que a vida leve, que os outros façam ... Pensar ser o que não é, nem mesmo tentar saber quais as condições. Por isso lamento.
Um lamento pela ilusão.
Quantos são os que se queixam de coisas que outros fazem, porém, o que se incomoda faz também, sem se dar conta. Lamento.
Essa zona inconsciente é que por vezes me parece infértil, obstrui o crescimento, detém a consciência. Mas, por outro lado, agradeço por ser uma vestimenta, pois, para o que não estiver pronto para ver a luz, a verdade do agora poderia ser insuportável.
Lamento a ansiedade.
Lamento pelo que sofre sem saber porquê. 
Lamento que não se tenha encontrado a razão de existir.
Lamento pelos que não hão de saber qual o seu lugar e em que mundo.
Lamento por julgar saber o que não sei.
Lamento por pensar poder criar o que já existe.
Lamento pelo desamor.
Lamento pelos que não podem confiar, nem irão conseguir, nem mais tentar.
Lamento não discernir o que faz bem do que faz mal; por não discernir os dias.
Lamento por quem não sabe ler as leis da vida, nem de onde ela vem; por quem as palavras do Livro dos livros não fazem sentido.
Lamento pelos que são de minha espécie, lamento pelos que me são chegados e pelos que estão longe, lamento por mim.
Lamento ...

quinta-feira, 7 de maio de 2015

ELE É O QUE É

"O ser é e o não ser, não é". 
Foi um dito atribuído ao senhor Parmênides, a muito tempo atrás. De qual camada da alma ele se referia? 
Será que falava dos que moram debaixo do sol?
Pensemos juntos: Quem nem chegou a ser, não é ainda. Também não é o que já se foi.
O que não era, mas passou a ser, conta os dias, pois sabe que se vai.
O Nascimento, que talvez tenha nascido outra vez, disse em dado contexto: "Chegar e partir".
O que é, nem chega, também não parte. É; sempre sendo, sendo, sendo ...
Só sei de Um que é pra sempre, também sempre foi, é em todo lugar. É, mas não se deve falar seu nome, sem propósito, reverência e espanto. Seguramente, manter este zelo é sapiencioso. 
Só os que ignoram que há um dono deste mundo que vivemos, não se importariam com cerimônia ou reverência. Por vezes dizem a qualquer hora e em qualquer lugar, só por hábito ou mau agouro, o Nome que está sobre todo nome. Penso que, não saber é um dos jeitos do não ser.
O que poderia dizer para Ele? ... Como me apresentaria? ...
Dizer como passei o dia, se me viu passar, sair e chegar ...
De qualquer modo, quero me dar a conhecer, quero me apresentar, me fazer ver, dizer o que sinto e ficar em longas conversas contando como cheguei até aqui, mesmo que seja sabido.
Agradeço tanto por morar dentro de mim, e não fora. 
Gosto de ouvi-lo por dentro, mais do que ouvir pelos ouvidos; bem mais. 
E como saber o que O que é se compraz?
Sei que falou de seu Filho, em quem se compraz. Também me comprazo.
Meu desejo é estar onde O que é estiver, onde quer que Ele esteja quero ir também, ou ficar: chegar ou partir.
Desejo ser morada permanente, onde Eles estiverem, Pai, Filho e o Espírito Bendito, eu também quero estar. 
Ele disse, Aquele que é o princípio e o fim, que nos prepararia morada. Que seja uma casa grande, com muitos cômodos e alguns andares. Plantas e bichos, muita vida em toda parte. Alegria seja a constante, e tudo muito limpo, cheio de luz, com suspiro profundo de confiança e amor aos baldes.
Ao ir ou vir, onde eu entrar, e por ali for ficar, que haja paz.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

TIRAR A CASCA PARA VER A BELEZA

Recipientes ... Parece platônico?
Recipientes sim. Sei que logo se pensa em corpo, e o corpo é recipiente autônomo, se expressa, tem vontade e tem desejo de viver. 
Um recipiente que tem vida, e que se confunde com o que recebe em si, tem a habilidade de obliterar.
Obstruir, obliterar, impedir, conter e deter. Não me detenha.
Formas em geral são recipientes; como não seriam, se delimita o espaço. Nele aparece o limite do que foi formatado.
Recipiente não é algo banal; leviandade é pensar que seja. 
Há recipientes preciosos, cheios de beleza e delicadeza.
Há também os que são tão frágeis, sem o saber, que se rompem antes do tempo.
Não despreze o que recebe em si, pensando ser só um recipiente ...
Das coisas que tem matéria, o que não é recipiente poderia receber?
Na severidade há o fechamento, a rispidez, não menos necessária para o equilíbrio da vida. Severidade será que é salpicada com sal?
No amor, o doce se pode sentir.
Doces podem ser as palavras, os sentimentos, os sentidos, as formas doces, os juízos doces, a beleza doce. 
Quando o paladar se habitua, o doce pode parecer banal, assim como o recipiente.
Beleza de recipientes há de muitos modos, só olhar para a forma e ver se traz consigo sabor de doce. 
Nos outros gostos deve haver também beleza, mas de um outro modo de ser.
O tempero do doce é de relaxar os músculos, equilibrar a forma e revelar a simplicidade do que é belo sem casca.
A casca oblitera os olhos, e só os olhos podem ver beleza. Outros sentidos veem doçura.
Caia a casca que cobria as pálpebras. Olhos não foram feitos para serem obliterados. Creio que por isso gosto das transparências, das mais translúcidas.
Há o dia, e está perto, que não será necessário dormir, encobrir com pálpebra o que pode estar desperto, e sem tensão ... Doce ... Doce.
No doce, o 'e' demora para terminar. Depois de um tempão é que vem o silêncio. Na boca, talvez não demore para se dissipar.
Hoje estive lá, em um jardim. Busquei pelo meu, o amado de minha alma, o que me tempera com mel, me dá palavras que na boca são doces e no ventre mudam. Não entendo isso bem.
Um dia irei saber ...
Como é belo o doce do teu amor.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

ENTENDER, VER E SENTIR

Príncipe da Paz, como não me comover intimamente?
Eu cri, mas precisei conhecer. Para poder conhecer, pedi por sabedoria, e ela me foi concedida. A sabedoria não vai ao que por desejo de ostentação tenta se apropriar dela, mas vem quando e a quem é concedido vir.
O desejo que conduz à vida, e à benção, é ouvido e atendido. 
Do que podemos deliberar, o desejo é o que grita mais alto, pois é de pronto ouvido.
Desejo retificado é como desejar andar na luz, sem tropeço, nem acidente, porém com surpresas. Mas, as surpresas, todas elas, cooperam para o bem dos que te amam, pois, num crescente: ouviram, creram, entenderam, viram e experimentam. Experimentar é o que está no presente, pois é da ordem das qualidades. 
Quem poderia experimentar por mim, ou eu por alguém?
Será que ouvir é ver com o coração?
Ouvir é ser generoso, pois demanda vigor, e, atenção demanda muita energia.
E quando o conhecer transborda sem se calar?
Paz é o que vem e aquieta.
Amo tua paz, que é uma paz singular, que no mundo não se encontra, nem na falta de confiança pode ser encontrada.
Crer é ver no devir.
Não seria essa a pretensão da ciência, ver o devir?
O que quer controlar não pode ter boas intensões, faz uso de força e tem gosto pela violência;
Venha o que há de vir, pois tanto o começo quanto o fim, tanto o teto quanto o chão, tanto o que é conhecido como o que poderá vir a ser, são por Ele. Os corações dos homens? ... Para Ele.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

VAMOS PENSAR SOBRE EXTREMOS?

Hoje senti vontade de dar 'oi'. Então: Oi!

Esse assunto da conversa tem a ver com a velha antinomia, que, como acontece na moda, muda uma gola, um jeito de costurar o barrado, uma cor mais jovial e se apresenta como um outro, novo, que em essência é o mesmo tecido. Lembrei de pensar: "Não se costura remendo de pano novo em tecido velho". Se faz necessário nascer de novo.
Você já deve ter suspeitado qual das antinomias me refiro, não? ...
Exato!! Os extremos substantivos, Sujeito x objeto.
Um sujeito sem objeto seria hetério, e um objeto sem sujeito, vazio.
Mas, antes disso, depois de ter perguntado ao distinto Sr. Kant, podemos experimentar ou observar os extremos?
Uma alma cheia de perguntas é mesmo bem inquieta e não sossega, mas sua motivação vem de boa ansiedade, àquela que impulsiona pra profundidade, para o íntimo. Esse processo é o do 'faz crescer'.
Então, ao mergulhar, pode-se chegar ao fundo? E ao voar, se chega no teto? O problema se complica quando não existe nem fundo, nem teto.
E eu estava lá antes que as coisas fossem assim como a conhecemos? Talvez pudesse estar, por fazer parte do que compõem o tudo, mesmo que uma parte bem pequena, quase sem peso, desmaterializada, sem sujeito.
O que tenho pedido e desejado é que a ilusão do 'mim mesmo' diminua e a consciência do 'parte do todo' cresça em mim. 
Talvez seja esse o sujeito que não se oponha ao objeto, e se não houver oposição, será que não é ali que o extremo se configura?
Não sei se é possível ser um sujeito sozinho, tudo aponta para o não. Também nem desejo que seja assim, pois o sozinho nem sabe errar, de tão sozinho que é.
Que o erro acuse como um sintoma, de que o sujeito sem objeto não vive per si .
O bem que desejo pra mim, desejo pra ti, que penso também ser parte do todo. 
Assim, pensamos em círculo, voltamos no tempo e fazemos a velha pergunta, que usa roupas rotas: "Ser o não ser, eis a questão".
Posso escolher que tipo de ser ser?

segunda-feira, 23 de março de 2015

JUSTIÇA E VERDADE

Sabe ... Estava pensando ... Observando ... Refletindo ...
Como poderia existir justiça sem que haja verdade?
Há uma máxima: "O justo é o combinado". Porém, nem tudo que seja cominado é de fato bom. Poderia ser para prejuízo de uma das partes, ou das duas, se a ignorância selar esse acordo.
Mas, ainda que não seja bom, como é belo ver uma promessa sendo cumprida, um acordo sendo honrado.
Os gregos tinham razão, são indissociáveis: Justo, bom, belo e de verdade.
Os gregos, que são bem notórios, conquistaram credibilidade, mas havia essa noção bem antes, pois as pessoas estavam lá antes dos gregos. Não eram só os gregos que eram pessoas, ou que pudessem pensar; já pensavam antes, refletiam, observavam.
A arrogância do desejar ser melhor cega tudo mesmo ... Que triste.
Quem já leu histórias míticas bem sabe que as pessoas (e o que não eram pessoas) estavam lá. Tramas complexas, desejos intensos, verdades veladas e as reveladas também. 
Entre os que estavam lá, haviam os que tinham cede e fome de justiça, seguramente. A justiça traz consigo, para o que a busca, juntamente com a verdade e o bom, paz e liberdade. 
Para os injustos, mentirosos e de más intenções, o brado de que "Venha a Justiça!", não poderia nem parecer algo de se aproveitar; bem pelo contrário, viria para a própria perdição, pois seu egoísmo e injustiça seriam revelados juntamente consigo, ainda que se escondessem. 
Pobre desse, que corre contra o tempo. A perseguição nunca sessa, pois traz seu tormento consigo, escrito por dentro e por fora.
Se quer ser feliz, corre atrás do que pode ensinar a justiça, a verdade e o que é bom. Peça também uma boa vontade, pois ainda que saibamos como deveríamos agir, o realizar também é motivado pelo amor ao que nos fez e por nós mesmos.
Já viu aquele, que tudo que é seu, depois de o conquistar, não julga poder ser bom? Não poderia mesmo, pois como algo bom se interessaria em ficar por perto de si. Os iguais se procuram.
Não se ocupe de planos plantados no agora, se é feito de coisa que não dura, eles não irão durar ...

Agora falo baixinho, ainda que não seja segredo, mas só pra puxar pra perto, de modo que possa sentir o carinho, no que há de escutar: Se mentia, não minta mais.

Arrepender-se é o suficiente, mas sempre tem de ser de verdade. Olhe pra trás, será que faria tudo de novo mesmo? Quanto perdeu? Será que ganhou? Foi o que esperava?
Agora falo de uma desgraça, talvez a que mais tenha aversão:
Sentir-se injustiçado, traído, por ter feito o bem e recebido o mal. A semente do ódio e da ira são plantados ali. Depois basta esperar para que a raiz de amargura comece a brotar. A amargura traz no nome o ranço do que não é de bom sabor, nem nunca será. Não pode haver prazer onde ela se alastra; tudo fica ruim, sem doçura, e num crescente.
O que se sentiu injustiçado, faça a justiça e se não consegue, peça àquele que transforma corações de pedra em órgãos de carne. Fale a verdade: O que procura? O que te dói? Por que guarda consigo o que cheira mal? 
Permita que o que se foi, se vá. Não retenha, abra as mãos, pare de agarrar.
Se disser que o que feriu tem de pagar agora, não será prudente, pois o tempo está contra você; também terá de pagar.
Só há um único caminho, enquanto ainda houver tempo. O tempo é hoje, e o caminho pode ser trilhado agora. A porta é pedir perdão.
Somente os humildes sabem pedir perdão, por entenderem que o erro permeia e ronda os seres de carne e osso; salvo um, o que morreu e tornou a viver, pois Dele é a vida. Peça, e Ele a dá liberalmente, por amor, por ser justo, bom e de verdade. Ele veio para isso, e esteve entre nós. Se tem ouvidos, por favor a si, ouça.

sábado, 14 de março de 2015

CHEIOS DE VONTADES

Estado volitivo parece ser por natureza.
O que seria uma vida sem vontade, com volição suspensa?
Ter muito conhecimento não significa ter boa vontade.
Posso conhecer sem precisar escolher ... Vontade deve servir pra saber o que escolher, ao menos é o que me parece. E será que é possível viver sem fazer escolha? Nem que seja entregar a decisão a que outro decida, parece ser uma escolha.
Qual o objetivo de viver aqui ... Ou ali? Tem muitos, em tempos diferentes. Qual o maior deles?
Será que olhando de perto, as muitas escolhas traduzem uma mesma?
O véu que cobre a consciência torna opaco o conteúdo do que se deseja. O inconsciente tem muito mais de si a que o que se mostra por meio do que vem a se tornar consciente. "Os incautos não percebem isso."
Quanto mais se é um ser de vontades egoístas, mais se atraí frequências de baixa intensidade. Para o Muitos tem de ter frequência alta, pois não precisa acalçar só um. O mundo se move por princípio de economia. Economizar é mesmo elegante, é respeitoso.
Tolices são ditas aos baldes. O que há de ser relevante em meio a tanto palavrório? Como saber o que e a quem ouvir?
Me disseram que a natureza tem vivido dias de silêncio. Verborragia tem mais nas cidades, pois dizem que elas não param. Se não param, demandam muita energia. De onde vem a força das cidades?
Viver em cidades não é natural, elas são cativeiros com luz e sons que atraem para um excepcional. Ao prestar atenção, se não se nasceu em meio ao concreto, como o que é artificial sobreporia-se ao que é por natureza? As inspirações artificiais saíram de onde, quem sabe me dizer? 
Por minhas andanças, vi que há uma apropriação do natural pelo artificial, que por um tempo e parte de um tempo iludiu, enganou, seduziu, atraiu, porém, não sustenta uma ponte, um laço, uma amarra; a não ser que se esteja cativo, tenha sido cegado e já não pode fugir, por não enxergar a luz, nem saber o caminho.
A boa vontade é escolha de vida. Ter vida é uma boa escolha.
"Eu vim para que tenham vida, e que a tenham em abundância".

segunda-feira, 9 de março de 2015

POUCO SABEMOS

A arrogância me assusta, com susto de pular pra trás. 
E o que seria não a ter por perto?
"Só sei que não sei" pode parecer retórico, mas é tão sincero saber que não sabe. Quando se é amplo, saber que não sabe é quase como dizer que o que se sabe não é relevante. Saber que não cria o espaço, nem sustentam o lugar talvez nem seja saber. 
Poderia parecer ser o mesmo, saber ou não saber. Se houvesse garantia de que saber poderia mudar o curso, fazer discernir o que é bom, forjar desejos que não são contra si, mas a favor.
A impotência pode agir no não saber como no saber.
Tantos vieram antes de nós, e o que é que sei que já não sabiam; tantas leis há que não se sabe até hoje. 
Acho este um tempo do estar convencido que se sabe. Mas, não me parece que saibam o que estão fazendo, é possível que não saibam das leis.
O amor por saber, ainda que se detenha na vontade de poder, tem seu fim último no desejo de ser feliz. Não é assim?
A felicidade tem porta estreita; a da arrogância é que é larga.
O que é importante saber?
Ignorar leis parece ser manifestação da ilusão do poder de fazê-las não mais existirem.
Quantas são as leis? Quem há que se interesse por saber como são? E se ao saber, acaso elas mudaram?
Há lei que muda, e há lei que não muda. Não muda o que é inabalável. 
As que mudam criam a ilusão de que as outras também poderiam mudar, ou que, se sob a força de um desejo insistente, que a pudesse dissuadir a agir de um outro jeito, facilmente cederia.
Gosto do que não muda, mas pra bem, pra vida e pra bendição; pra que se construa uma unidade.
Na unidade são ordenadas bençãos. 
Desejo estar unida ao que é do lugar que não pode ser abalado.
"Pai, perdoa-nos, pois talvez ainda não saibamos o que fazer".

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

FIAR E CONFIAR

Quem confia que arque com o dano, se houver algum. 
Confiar é tornar-se fiador.
O fiador, quando se compromete a garantir que a dívida seja paga, o faz na esperança de que o que deve salde a dívida. Se, e somente se, o que deve não pagar, o fiador quem o irá fazer.
Quando se vive em tempo que a verdade aparente entra em colapso, e o que se fala é escrito no gelo, quem se tornaria fiador de alguém? Já pensou, pagar o que não se deve, assumir a dívida do que gastou. Só se pode fazer isso por amor, ilusão de poder ou por medo.
Pode ser esta uma forma de se aplicar critério para saber em quem confiar, pois a confiança não pode ser dada a qualquer um. Que tolice o que assim procede, pois poderia se endividar de contínuo. E quem tem tanto crédito, e que seja tão rico que pague de contínuo?
Os que se fiam em si certamente temem, ou se permitem iludir, até por saberem que 'maldito o homem que confia no homem, e que faz de seu braço sua força'. 
Há provérbios que mesmo que não tenham sido ouvidos são sabidos; eles vêm gravados na consciência.
Um outro dito é que o verdadeiro amor lança fora todo medo, por não temer perder, mas por almejar o dar.
O que ama dá a confiança, e se tiver de pagar, paga; se não tiver com que pagar, depende de outro maior, em amor e em poder, para não se tornar escravo.
Não há um que ame mais do que aquele que dá a vida para que o que deve a tenha, e a tenha em abundância.
Louvado seja Aquele cujo poder é infinito e amor incondicional, o que não é homem para que minta; é o Verbo, expressão da Verdade, que se fez homem e habitou entre nós. Seu reinado não é deste mundo, mas para este se volta, salvando da dívida os que se deixam atrair.
Escolha a benção e escolha a vida, pois da dívida só se liberta o que não deve nada, e não dever nada só pode ser um contexto divino, pois aos que são feitos de carne e de osso, que nascem pobres, cegos e nus, a dívida aumenta conforme o tempo. 
A bem aventurança:  Dívida paga por benefício da graça, graça por parte daquele que nos amou, que não poupou ao que Nele se compraz para trazer a paz aos homens de boa vontade.
Desejo que a vontade seja boa e que o pedido de perdão da dívida seja feito, pois a resposta é de bondade, vem do desejo de que se escolha a vida e escolha a benção.
O que era pra vir veio, eis que disse voltar sem demora. 
Ora, venha o saldador da dívida que me prendia. Venha amado meu, em quem minha confiança esta posta e minha alma se compraz, a quem pertenço e entrego meus dias.
Eu sou do meu amado e o meu amado é meu.