segunda-feira, 5 de outubro de 2015

PALAVRAS OCUPAM ESPAÇO?

Não tenho tido palavras nos lábios por este tempo. Elas estão cada dia mais quietinhas, sem nem que o respiro se possa ouvir.
Creio que a sensação é de que tudo que era para ser dito já foi, e o que é, já foi também.
No íntimo, as letras ainda estão a tecer o pensar, porém, de forma embaralhada, ou de maneira cifrada, que não me deixa entender. 
Parece ser um processo em que, mesmo que uma palavra escape, ela não se ancora à outra. Parece estranho que as letras não se comuniquem, nem se deem as mãos; como também não formar frases, não gerar entendimento; devem estar meditando em solidão.
Que estranho estado esse, pois a muito que aprendi que letras matam ou fazem viver; mas sobre as que não se relacionam, essas ainda não conhecia.
E que espaço as palavras, frases, versos, textos, longos escritos ocupam? Se não estiverem nos suportes de papel e nos de luz, para onde vão?
Não é uma pergunta razoável? Para onde será que elas vão quando se calam? Para as montanhas, como os eremitas? Para o mar, como os navegantes? Ou para as estradas, como os andarilhos?

Será que Lavoisier também estava falando sobre elas, as letras e as palavras, ao registrar que nada se cria, também não perde, mas se transforma?
No momento,  o que tenho sentido (o que não faz muito sentido) é que se der umas pancadinhas na cabeça, perto dos ouvidos, sacudindo de um lado para o outro, elas irão cair, tanto as letras como as palavras, sem que haja sentido de onde estavam, tampouco para aonde irão.
Pensando melhor, talvez seja só um tempo de se reordenarem, para que haja uma arquitetônica diferente, mais ampla e consistente. Pode ser isso ... Talvez fossem muitas, que já estavam ficando apertadas, amontoando-se umas às outras, numa ordenação desconfortável.
Quando estiverem em local mais amplo, arejado e aprazível, penso que irão voltar a ser como eram, enfileirando-se umas às outras, em fila indiana e seguindo o caminho que deveriam andar. 
Neste sentido, entendo bem, pois sempre preciso de bastante tempo e muito espaço para me mover. 
Sabe que me identifico com letras e palavras ... Consigo compreender seu modo de ser no mundo, a procurar um ouvido, uma mente para transitar, lábios que as impulsionem ou livros para descansar.
Pensando um pouquinho mais ...
Num saber profundo, se me perguntassem de que sou feita, talvez ainda mais do que carne e sangue, diria: a Palavra me pois de pé, abriu os olhos e me deu A vida.

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