terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CONEXÕES E VIOLAÇÕES

Escrevi em algum lugar, que não me lembro onde, que prefiro o gato de Schrödinger a que o cachorro de Pavlov, e faço essa escolha novamente, agora com maior consciência.
Ainda não entendemos as implicações mais profundas que possam nos dar pistas do que é de fato o real, e me interessa saber. 
Talvez o real tenha a ver com a escolha de um ponto de partida, pois pode ter muitos do real espalhados por aí, sem que vejamos. 
Como, por exemplo, na experiência imaginária do gato de Schrödinger, ele poderia estar vivo e morto ao mesmo tempo, em realidades justapostas. O curioso é perceber que quem entrelaça a realidade nessa experiência mental é o observador consciente, ao conectar-se com o gato, ao olhar para ele, e demonstrar interesse em ver se estará vivo ou morto.
Acredito que o olhar cria realidades. As mentes criam. O interesse impulsiona. E o aproximar-se em pensamento estabelece uma conexão.
Mudando um pouco de assunto, por vezes me pergunto, porque tenho de esperar alguém que considero importante dizer o que no íntimo já intuía? Talvez seja minha cabeça dura e difícil de convencer, semelhante a Tomé. Não precisa ser nenhum gênio para saber que sentir é bem mais rápido que pensar. Se posso escolher, prefiro ter fé. 
Também não preciso saber muito para sentir que quanto às conexões que fazemos e desfazemos ao longo da vida, participamos intimamente da criação de cada uma delas. E tanto podemos dar vida como julgar, decretando a morte.
Não sou nada original ao pensar assim, pois seguro que a muito e muitas vezes já se pensou. Mas, como cada experiência é única, e o modo de contá-la também, a história se repete individualmente toda vez que alguém passa por ela.
Voltando ao assunto, inspirada pela sugestão de Schrödinger, aprendi a prestar atenção no ritual que envolve a "assinatura" das conexões que criamos. Passei a olhar, como observadora consciente, dois tipos de conexões muito comumente praticadas, só não sei se de modo muito consciente: alianças e contratos.
Até onde sei os contratos são contingentes, dependem da intenção do outro. Pois se o que foi prometido não se cumprir, os envolvidos ficam desobrigados de seguirem o acordo, e a questão tem de ser revista até que se resolva o impasse. Seguro que no contrato não cumprido a confiança é arruinada e a obrigação faz exigir uma retratação, ou a fúria se instala.  Ninguém vai admitir perder.
No caso da aliança é diferente, é de uma natureza delicada, bem mais sutil. É o tipo de conexão que quando feita não depende do outro para se estabelecer, ela é autônoma, livre, feita com laços desobrigados de amor. 
Enquanto a natureza do contrato é ser bilateral, condicional, revogável e dissolúvel, a aliança é seu oposto, pois quem escolhe fazê-la não a faz condicionalmente, ela não se guia pelo "se e somente se" ... 
A aliança assume e não duvida. Por isso a confiança vem como acréscimo. A aliança é inviolável, incondicional e indissolúvel. Porém, se confundida com o contrato e agredida pela fúria (temos de considerar que vivemos no mundo dos homens de corações duros) não se perde só em espécie, se perdem pedaços, e sem pensar sobre os direitos, uma voz que fala mais forte, com convicção, diz assim: "Ainda que se distancie, que se perca e que vá embora vou me esticar para estar junto, mesmo que não se perceba." 
Quem sabe a ciência passe a nos ensinar  sobre isso, e conte de novo, mas ao seu modo, o que já foi sentido. 
Já ouviu falar sobre a Teoria do Entrelaçamento Quântico? Vou procurar saber. Me disseram que ela descreve a aliança entre partículas, porque contratos elas não fazem. 

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