quinta-feira, 3 de abril de 2014

O PRAZER EM DAR FAZ ABRIR O SISTEMA

Há algumas disposições que percebo serem raras nos muitos e encontradas em alguns.
Tenho forte impressão que muitas das relações que envolvem disputa de poder, se não todas, são de um modo que forçam ou tentam degenerar o que não tem o mesmo intuito. 
Sabe do que estou falando?
Posso falar de um caso: O desejo de servir pode ser interpretado como fraqueza, como subserviência rendida. A primeira interjeição poderia vir assim:
- "Serve por não ter outra opção, se não certamente só iria desejar ser servido".
Esta interjeição tira toda a dignidade do servir. Por que não poderia haver o sentir prazer maior em dar a que o prazer de receber? Ambos podem ser prazerosos, mas também poderiam ser sem prazer algum. 
O que me vira o rosto com os dedos nas bochechas para reparar é que pode haver o que só quer dar, e por consequência, ou semeadura, o receber é que passa a lhe vir ao encontro. Não se poderia ocorrer assim? Eu já vi ...
Ao dar, o sistema é aberto. Se somos sistemas feitos de muitos outros sistemas dentro deste maior, que por sua vez faz parte de um maior ainda, que ultrapassa o limite da pele, estar aberto é sua condição de crescimento. No entanto, condição necessária, porém, não suficiente. 
E a força que move, e faz tudo querer se mover? O que poderia mover aquele que deseja servir?
Não contribuir, não servir, não ter função faz com que o valor vá embora, pois se não serve para nada ... De nada poderia valer ... A Natureza não se move assim? O que não serve de nada, não precisa existir. 
A questão é que nem sempre sabemos para que serve, e mesmo assim poderia servir, sem que pudéssemos ver. O ver "para que serve" precisa vir acompanhado de um olhar bem amplo para ser achado.
Parece que entre as coisas que se deve aprender, uma das mais excelentes é o aprender a ver.
Será que intuir é um modo de ver mais amplo?
Tenho percebido que a intuição é rápida, muito útil em tempos em que as coisas têm de ser resolvidas no agora. Mas, como se ensina 'intuir'? Imagino o enunciado: "Nesta questão, intua que ... " Como poderia ser assim?
Que o que possa intuir sirva ao que me dá ouvidos, e para que funcione o olhar, ele tem de estar retificado. Para retificar o olhar, só curando o coração.
Olhe pra si e veja se algo dói. Se doer, a qualquer lembrança que venha à tona, a cicatriz não se formou, a pele não cresceu e a ferida está exposta. O que se segue é que a intuição não há de funcionar corretamente, mas de um jeito contaminado, com o prurido da ferida.
A dor prende no agora, lembra? E se aquele agora, que já passou, se sente hoje, o tecido está rompido e o sangue se escoa. E quem não sabe que o sangue é a vida. Claro que se sabe. 
O que está prezo no agora do passado fica incapacitado de ver amplo. Creio que não consegue nem ver, só lembra da dor que sente, o que é compreensível. Sendo assim, o importante, o foco se fixa no "não querer sentir dor", e não no "querer ver longe e amplo".
Então, antes de ensinar a intuir, importa saber ajudar a curar. Ajudar já é servir.
No entanto, ainda que se sirva, a cura só vem para o que quer ser curado, ou para o que crê que pode ser curado. Disso estou certa.
Mas, como querer ser curado, quando nem sequer se sabe se está ferido? 
Tenho uma suspeita:
A presença da dor é o que avisa. Não? ...

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